Mercado e governo esperam embargo mais curto da China à carne bovina do Brasil

Especialista acredita que o impacto sobre as exportações tende a ser limitado, e "tudo indica que essa suspensão vai até o mês de abril".

Reuters

SÃO PAULO (Reuters) – A suspensão das exportações de carne bovina do Brasil para a China, devido a um caso de “mal da vaca louca” no Pará, pode durar menos tempo que a ocorrida em 2021, última vez em que foram registrados casos atípicos da doença no país, conforme participantes do mercado ouvidos nesta quinta-feira.

O embargo, que faz parte de um protocolo sanitário entre os dois países quando há confirmação da doença Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) no Brasil, permaneceu por quase 100 dias em 2021. Já em 2019, um outro caso atípico também foi confirmado, mas a suspensão de exportações durou apenas 13 dias.

“Não acredito que a situação de 2021, quando o embargo começou em setembro e só caiu em dezembro, vai se repetir. É importante dizer que as relações diplomáticas agora são melhores do que no governo anterior”, disse à Reuters o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Ele acredita que, por se tratar de um caso isolado neste ano, o impacto sobre as exportações tende a ser limitado, e “tudo indica que essa suspensão vai até o mês de abril”.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, tem uma projeção ainda mais otimista e afirmou na véspera em entrevista à CNN Brasil que o embargo pode cair no final de março, citando a importância da transparência e agilidade nos processos. Procurado, o Ministério da Agricultura não respondeu de imediato a um pedido de comentários.

Fávaro já recebeu o embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, na sede da pasta nesta quinta-feira, primeiro dia em que o embargo entrou em vigor.

“Estamos trabalhando com total transparência e agilidade nas informações sobre o caso de EEB no Brasil e trataremos todos os nossos parceiros comerciais com máximo respeito”, disse ele por meio de uma publicação em sua conta no Twitter.

O diretor da consultoria Athenagro, Maurício Palma Nogueira, disse que o resultado de teste que ainda está pendente, para a confirmação final de que se trata de um caso atípico de vaca louca, vem de um laboratório de autoridades sanitárias internacionais no Canadá e deve sair em breve, confirmando o diagnóstico já realizado no Brasil.

O caso é atípico quando a doença acontece espontaneamente em animais mais velhos, sem risco ao rebanho ou a seres humanos.

“Depois de sair a definição de que se trata da doença atípica, o órgão internacional para saúde animal deve divulgar uma nota mantendo o status sanitário do Brasil –e reforçando que o risco é insignificante”, disse ele.

“Acredito que o desfecho, desta vez, possa ser mais rápido do que aconteceu em 2021”, acrescentou.

O especialista lembrou que na ocasião anterior foram encontrados dois animais em frigoríficos, um em Minas Gerais e outro em Mato Grosso, e não um animal em uma propriedade rural.

Além disso, a capacidade da fiscalização brasileira por identificar a doença em um gado a pasto, em propriedade com pouco mais de 100 animais em meio a um rebanho de 200 milhões de cabeças, também chama a atenção positivamente.

“O rigor dos protocolos é muito eficiente. Isso deve depor a favor neste momento para que a confiança dos chineses permaneça.”

BOA RELAÇÃO

Uma fonte de um grande frigorífico exportador disse à Reuters na condição de anonimato que sua expectativa é de que, de fato, o tempo de duração do atual embargo esteja mais parecido com o de 2019 do que com o de 2021.

“A relação China/Brasil está melhor, chineses habilitaram e tiraram suspensão de plantas brasileiras recentemente. A vida está voltando ao normal após a mudança de regras contra Covid na China e a situação deles com os EUA ainda está muito complicada, e Brasil é o único parceiro que tem volume de carne para eles”, afirmou a fonte na condição de anonimato.

O presidente da AEB destacou também que as cargas que deixarão de seguir para o mercado chinês podem embarcar para outros países que tenham regras sanitárias menos rigorosas que a China, o que reduz parte dos impactos aos exportadores.

Por outro lado, companhias como Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3) já anunciaram que continuarão atendendo o mercado chinês por meio de outras unidades na América do Sul.

ENTENDA

O Ministério da Agricultura informou na noite de quarta-feira que as exportações de carne bovina do Brasil para a China estariam suspensas temporariamente a partir desta quinta-feira, seguindo um protocolo sanitário oficial devido à confirmação de um caso da doença vaca louca.

Segundo comunicado da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará), trata-se da forma “atípica” da doença.

O ministério comunicou o caso à Organização Mundial de Saúde Animal (OMAS) e as amostras foram enviadas para o laboratório referência da instituição em Alberta, no Canadá, cujos resultados ainda são aguardados.

A China e o Brasil assinaram em junho de 2015 um protocolo sanitário que estabelece um autoembargo para as exportações ao país asiático diante de casos de vaca louca. Ou seja, quando uma ocorrência da doença é confirmada, o governo brasileiro suspende automaticamente as exportações.

O embargo é temporário, mas seu tempo de duração é indeterminado e definido pela China, maior compradora de carnes brasileiras.