Alpargatas (ALPA4): ação da dona da Havaianas desaba quase 19% após mais um resultado decepcionante

Mercado interno limitado e cenário desafiador nas operações internacionais corroboram mais uma vez números fracos; analistas divergem sobre ações

Lara Rizério

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Já está virando rotina. Por mais um trimestre, as ações da Alpargatas (ALPA4),  dona da marca Havaianas, desabaram na sessão pós-resultado, com a visão de números fracos e um cenário desafiador. Com isso, os papéis fecharam a sessão desta sexta-feira (10) em queda de 18,68%, a R$ 9,58, após chegarem a cair mais de 20% no intraday.

A companhia divulgou na véspera prejuízo líquido consolidado de R$ 21 milhões no quarto trimestre de 2022, revertendo a cifra positiva em R$ 303,1 milhões reportada no mesmo intervalo do ano anterior. Segundo a empresa, as bases não são comparáveis devido à aquisição de participação na Rothy’s e venda da Osklen, anunciadas no último trimestre de 2021.

No trimestre, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) recorrente da Alpargatas ficou em R$ 152,6 milhões, 15,2% menor na mesma base comparativa anual, com queda de 3 pontos porcentuais na margem. O recuo reflete a queda de volume no Brasil e ao aumento das despesas comerciais e de marketing, segundo o release de resultados. O Ebitda societário registrou R$ 47 milhões, queda de 72%.

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Para o Bradesco BBI, no geral, os resultados da Alpargatas foram ruins. Nas operações brasileiras, a Alpargatas enfrentou mais um trimestre de queda de volumes, impactada principalmente pelo baixo desempenho do canal de supermercados, o que corrobora com a tese do banco de um mercado interno saturado, levando a um crescimento limitado de volumes.

Enquanto isso, os mercados internacionais foram negativamente impactados pelo segmento dos EUA, devido a alterações na sua estratégia de mix de canais, afetando tanto os volumes como os preços.

A XP também destaca resultados fracos, abaixo das suas estimativas que já eram conservadoras, devido a i) uma dinâmica de receita pressionada pelo cenário macroeconômico mais desafiador no Brasil, além de ajustes operacionais nas operações internacionais; ii) baixa de estoques no Brasil, EUA e China levando a uma pressão de rentabilidade em margem bruta; e iii) despesas com reestruturação no valor de R$ 49,3 milhões.

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Já olhando para os pontos positivos do resultado, a XP avalia que o preço/mix no Brasil continuou sendo destaque, com uma alta de 17% na base anual, enquanto os resultados da Rothy’s apresentaram uma melhora sequencial, com aceleração do crescimento de vendas (+10%) e um Ebitda menos negativo (em -R$ 3 milhões).

Com isso, a empresa teve um crescimento de receita líquida consolidada de 3% ano a ano, com a Havaianas Brasil crescendo 2% e as operações internacionais em alta de 7%. Assim, o preço/mix do Brasil compensou uma dinâmica de volume fraca (-12%), enquanto os volumes internacionais cresceram 7%, com a operação de Ásia-Pacífico e EMEA (Europa, Oriente Médio e África ) compensando a fraqueza dos EUA e da China.

Por outro lado, olhando para a rentabilidade, a margem bruta veio pressionada,  principalmente pelas baixas de estoque no Brasil e maiores despesas com centro de distribuição e armazenagem, enquanto o Ebitda consolidado foi de R$ 47 milhões (78% abaixo da projeção da XP e queda de 72% na base anual), impactado por efeitos pontuais de equalização dos estoques, reestruturação das operações internacionais e menor margem bruta do Brasil.

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Excluindo esses efeitos pontuais, o Ebitda consolidado foi de R$ 152,6 milhões (28% abaixo da projeção da XP e 15% de queda na base anual).

“Embora a companhia tenha divulgado algumas iniciativas para enfrentar os desafios operacionais e macroeconômicos, acreditamos que os efeitos positivos mais materiais devem ser vistos somente a partir do segundo trimestre”, apontam os analistas, lembrando ainda que a empresa anunciou a substituição de seu CFO pelo André Natal, “um executivo conceituado no mercado e com sólida experiência na condução de ganhos de eficiências operacionais”. A recomendação da XP para a ação segue neutra.

O JPMorgan, por sua vez, segue com recomendação overweight (exposição acima da média, equivalente à compra) para os ativos, mas aponta que os números foram fracos, prejudicados por 1) volumes fracos no Brasil (-12% anual), que levaram a uma menor alavancagem operacional, 2) encargos pontuais relacionados à provisão de perdas de estoque e 3) encargos de reestruturação, principalmente em operações internacionais.

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Os analistas destacam que as expectativas dos investidores com quem falaram estavam no geral acima da projeção deles, justificando uma reação negativa do mercado. Contudo, ainda assim, os analistas acreditam que o 4T22 não trouxe à tona nenhuma questão estrutural para o case após uma série de resultados decepcionantes.

Os baixos volumes no Brasil refletem um processo de desestocagem à medida que o clima mais frio afetou o sell-out (vendas a consumidores finais de lojas próprias e franquias, principalmente em setembro e outubro), enquanto a empresa reportou ganhos de participação, inclusive no principal canal de varejo de alimentos (ou seja, nos supermercados).

Além disso, a margem bruta medíocre reflete a menor alavancagem operacional da manufatura com a menor produção no Brasil. Já os custos pontuais de reestruturação devem levar, mais para frente, a  um 2023 um pouco mais claro em termos de perspectivas, que é quando se espera ver uma recuperação na margem.

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“Dito isto, continuamos a ver a Alpargatas caminhando na direção certa ,com ajuste nas suas operações internacionais para extrair dela melhores resultados no médio prazo. Isso, somado a uma visão de marca mais saudável do que o esperado no Brasil mesmo diante do fraco 4T22, apoia nossa visão construtiva de médio prazo sobre a empresa”, avalia o JP.

O Bradesco BBI, por sua vez, está mais reticente. “No futuro, acreditamos que o difícil cenário competitivo nos EUA e em outros mercados internacionais ainda deva ser um vento contrário”, apontam os analistas.

Assim, no geral, mantém recomendação neutra com um preço-alvo de R$ 16 (potencial de valorização de 36%), também com base em ventos contrários provenientes do cenário sombrio para o consumo discricionário no Brasil e um ambiente competitivo acirrado nas operações internacionais. Os analistas veem as ações negociadas atualmente a múltiplos considerados justos.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.