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O impressionante evento que ocorreu com a Americanas nas últimas semanas é fascinante demais para ser ignorado. Muitos artigos foram escritos sobre os lançamentos contábeis, a responsabilidade dos antigos controladores e os problemas dos credores.
Há também uma repercussão importante na construção de portfólios, pois a empresa é de capital aberto, listada na B3, e compunha o principal índice de ações do país, o Ibovespa. Além disso, é emissora recorrente de instrumentos de dívida no mercado de capitais.
Como havia escrito no artigo anterior, a elevada taxa de juros torna os títulos pós-fixados atrativos para os investidores. Uma forma de ver isso é o volume de crescimento das emissões de dívida corporativa e o fluxo de entrada em fundos de investimentos de renda fixa. Em 2022, as empresas emitiram R$ 271 bilhões em debêntures, aumento de 8,2% em relação a 2021.
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Antes de avançar, uma definição importante. A clássica distinção entre renda fixa e renda variável advém da previsibilidade do fluxo de recebimentos de cada uma delas. Na primeira, os pagamentos são conhecidos em seu valor (na maioria das vezes) e em suas datas. Já nas ações, os lucros e sua distribuição não são previsíveis.
Ao contrário do que muitos pensam, a renda fixa tem riscos. Existe uma construção teórica chamada ativo livre de risco, que se convenciona utilizar para títulos soberanos de curto prazo. Mas quando o emissor é uma empresa, existe um risco de crédito, que é a possibilidade de a empresa não pagar as dívidas.
Há também um risco de mercado, que é a mudança de preço que um título tem antes do vencimento por flutuação nas taxas de juros soberanas, mudanças macroeconômicas ou nas finanças da empresa (aqui, portanto, um reflexo de alterações no risco de crédito).
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No Brasil, esse fato não era tão conhecido, pois os ativos nas carteiras de pessoas físicas não tinham uma marcação a mercado. Isso mudou no começo de 2023.
Renda fixa é a maior classe de ativos do mundo e possui um universo de diferentes instrumentos que vão do baixíssimo risco do governo ao risco elevado de operações de recuperação de créditos inadimplidos. O alto endividamento público brasileiro e a elevada taxa de juros levam a uma concentração das carteiras de investidores de todos os perfis de risco em títulos públicos.
Com o desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil, debêntures de grandes empresas estão em quase todas as carteiras também – diretamente ou através de fundos.
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Aqui vale um destaque para mostrar o efeito de uma das lições fundamentais em construção de carteiras – a diversificação – aplicada para crédito. O evento recente da Americanas ilustra que o risco nesse investimento não é bem medido pela volatilidade, pois as debêntures da empresa tinham variação diária perto de zero até o começo de janeiro de 2023. A surpresa veio de uma só vez e a empresa deverá repagar suas dívidas em prazos muito mais longos e com descontos.
Uma carteira de crédito pulverizada, mesmo que estivesse exposta à empresa, evitou uma catástrofe. Por isso, bons fundos de debêntures não concentram posições em ativos específicos. Mesmo se houver inadimplência total, um fundo que tenha 1% de exposição a uma empresa perderá somente esse montante de patrimônio.
Infelizmente, o mercado brasileiro não é tão desenvolvido e não há um enorme número de emissores de qualidade. Fora isso, a liquidez no mercado secundário é limitada. Por isso, sou crítico de fundos muito grandes desses ativos, apesar de eventuais benefícios, como uma maior eficiência de custos.
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Para investidores com maior apetite ao risco, existem outros tipos de fundos de crédito, além daqueles que compram quase que exclusivamente debêntures.
Em crédito imobiliário, os fundos imobiliários listados oferecem opções de médio e alto risco com pulverização e liquidez no mercado secundário da B3. Já entre os fundos abertos, disponíveis nas plataformas de investimentos, existem multimercados que operam crédito no Brasil e no exterior, além daqueles que compram FIDCs (fundos de direitos creditórios). Uma novidade recente a ser implementada pela CVM em breve, aliás, é a possibilidade de todos os investidores comprarem FIDCs diretamente.
O susto causado pelo repentino pedido de recuperação judicial da Americanas não invalida a importância dos fundos de crédito nas carteiras de investimentos. Há lições valiosas a serem aprendidas, como a pulverização de emissores e a análise de risco nessa classe de ativo. O desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro oferece diversos tipos de fundos de crédito: os já conhecidos fundos imobiliários de crédito, os multimercados de baixa correlação com os tradicionais fundos macro e os FIDCs, que exigem um conhecimento profundo de análise.