Fintechs, edtechs ou agrotechs? Quais setores devem continuar a atrair a atenção dos investidores de venture capital

Além das fintechs que sempre lideraram, startups de cibersegurança, edtech e ESG devem ser destaques no próximo ano

Wesley Santana

(Foto: Pexels/RODNAE Productions)
(Foto: Pexels/RODNAE Productions)

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“O ano de 2021 foi muito fora da curva”. A frase é repetida por quase todos os integrantes do ecossistema de startups: de gestores de fundos de venture capital a fundadores de empresas. Por isso, 2022 pode passar a impressão de ter sido um ano muito ruim para as companhias de tecnologia.

De acordo com o monitor Sling Hub, até novembro deste ano, foram realizadas 758 rodadas de investimentos em startups, somando US$ 4,9 bilhões. Embora expressivo, esse número é bem menor que o registrado no mesmo período de 2021, quando 850 aportes totalizaram US$ 9,7 bi.

No entanto, quando os dados são comparados com 2020, o resultado é uma alta de 100% nos investimentos em startups, visto que o total captado por elas ficou na casa de US$ 2,7 bilhões há dois anos, ainda segundo o Sling Hub.

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Deixando o passado de lado, a dúvida que fica é sobre qual será o cenário do capital de risco no próximo ano e os setores de startups que podem ser favorecidos. Na avaliação de Guilherme Massa, fundador da Liga Ventures, plataforma que conecta empresas, startups e investidores, pelo menos no Brasil, a agenda da inovação deve continuar a todo vapor, especialmente porque o setor busca dar eficiência aos tradicionais.

“A startup traz a inovação na veia, por isso eu acredito que será um ano para usar soluções digitais e conseguir ter margem de crescimento. Além disso, considerando o cenário de recessão, acho que as grandes empresas vão dar suporte ao crescimento de empreendedores”, prevê.

Para ele, o ritmo dos investimentos vai se manter lento nos primeiros meses do ano, com expectativa em relação aos movimentos do governo eleito. Ele pontua que é preciso estímulo econômico para fazer a roda girar, inclusive na geração de emprego e reverter as dezenas de demissões em massa que se viu nos últimos meses.

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“A gente precisa esperar para ver os movimentos que o novo governo deve fazer, mas eu avalio que, pelo menos em boa parte do ano, quem vai ser responsável pelo crescimento efetivo dos empreendedores serão os parceiros corporativos. Os fundos de venture capital, iniciativas de inovação aberta ou parcerias de criação conjunta vão fomentar o empreendedorismo tecnológico no próximo ano”.

Startups de quais setores terão destaques em 2023

Na opinião de vários analistas, as fintechs podem continuar brilhando aos olhos dos investidores, reproduzindo o que já acontece há alguns anos. Mas há outros setores que ganharão ainda mais destaque, como cibersegurança, educação, agronegócio e ESG.

No caso da cibersegurança, a área surge como uma espécie de socorro em meio a um movimento mundial de ataques criminosos. Diante disso, surge a necessidade de maior atenção das empresas -dos mais variados setores e tamanhos- em relação ao tema, e se apoiarem em soluções inovadoras que possam ajudá-las a melhorar a segurança digital.

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“É uma nova linha de risco que as empresas precisam gerenciar, mas nem sempre tem uma boa estrutura de governança. Em datas comerciais, por exemplo, caso da Black Friday, a organização não quer e nem pode estar sujeita a problemas na operação por causa de um ataque hacker. Então elas tendem a tratar esse assunto com importância, o que deve favorecer startups dessa área”, comenta Massa.

Já as iniciativas de inovação em educação podem manter a relevância que ganharam nos últimos dois anos, com a virtualização dos estudos. Só no ano passado, segundo dados do governo federal, foram realizadas 3,7 milhões de matrículas em cursos universitários à distância, um número que representa 40% do total de novos estudantes.

A Sambatech, uma startup que oferece recursos tecnológicos para o ensino, aposta em um ano ainda mais animador, dobrando o faturamento de R$ 50 milhões que aferiu em 2022. A edtech tem investido na unidade de negócios que personaliza os conteúdos com base no perfil da empresa parceira e dos estudantes.

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“A gente decidiu avançar com a ideia de hiper personalização, e encontramos um diferencial competitivo que era criar soluções que ajudassem as empresas de ensino a aumentarem o engajamento. Por meio de dados, damos condições delas olharem para o comportamento dos estudantes e entregarem o conteúdo para eles na hora certa e na plataforma certa”, destaca Mateus Magno, CEO da startup, que mantém contratos com marcas como Cogna (COGN3), Damásio, Hexag, entre outras.

Há, ainda, o setor de ESG que tem crescido em todo o mundo e deve galgar novos espaços, com vários países intensificando as metas ambientais. No Brasil, com a chegada do novo governo, que tem se comprometido com o assunto, grande parte dos empreendedores em ESG podem ter seus negócios atraentes aos investidores.

“O ESG certamente entrou na agenda das grandes companhias para valer neste ano, mas muita gente ainda está tentando entender o que realmente é. Nós veremos muitas startups e empresas se lançando em iniciativas mais robustas para atacar essa frente porque ela veio para ficar. Há lugares, especialmente na América do Sul, que a regulação vai apertar, como no rastreio da cadeia de produção e na governança interna, então vai haver um movimento de startups de impacto ou de negócios em ESG”, define Guilherme, da Liga Ventures.