Mercado de crédito é bom nesse momento em que a Bolsa está nebulosa?

A questão é que as pessoas olham a volatilidade de preços como se fosse um risco qualitativo do ativo, e isso não é verdade

Fernando Luiz

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(Getty Images)
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É comum investidores, principalmente os mais leigos, ficarem na dúvida entre comprar ações na Bolsa de Valores ou investir em algum fundo de crédito privado. Ainda mais agora que o mercado de ações tem variado bastante. Como o segmento de crédito corporativo privado basicamente não tem volatilidade, é natural achar que seu risco é menor. Mas analisar apenas este ângulo é um grande erro e vou explicar por quê.

De forma simplificada, existem dois tipos de riscos. Um é o risco matemático calculado em cima do preço do ativo, ou seja, em cima da volatilidade do preço do ativo. Outro é o risco qualitativo dos portfólios que, traduzindo, são aqueles que não se definem pela volatilidade do preço e sim pela própria substância.

É o caso do crédito corporativo privado. Se o investidor olhar para a volatilidade, o risco dele é baixo. O problema é que existem diversas complexidades em todo o processo de crédito desde o início, desde ter sido feito para um ente errado, que deixa de pagar a dívida, passando por falta de controles probatórios e até questões relacionadas à própria diligência e precificação ao longo da sua vida. Aí o preço cai e o ativo passa a considerar o efetivo risco daquela operação. Tende a ser um risco binário. Ou seja, qualitativamente, a substância do risco é altíssima, mas nem sempre o preço acompanha isto. O grande perigo no final é a correta precificação deste risco e possível inadimplência.

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Na Bolsa é diferente. Ao comprar uma ação, o investidor considera que a volatilidade do preço dela é todo o risco que ela possui. Na prática, se ele comprar bem, com margem de segurança, mesmo que essa empresa venha a quebrar, há uma série de instrumentos, de ativos, de dinheiro em caixa, além de proteções possíveis, o que evita a perda total do dinheiro investido. De forma geral investir em empresas, quando feito de forma correta e diligente, tem muito menos risco do que investir em operações de crédito privado. Apesar de não parecer.

Se o investidor não estiver alavancado, não estiver expondo seu capital além de sua tolerância a risco, improvável perder tudo investindo em empresas. Talvez o preço varie 10%, 20% ou 30%. Se cometeu o erro de comprar ações de uma empresa que estava cara, talvez mais que isto, mas não tudo. No crédito, ele perderia tudo. No crédito, quando dá errado, perde-se 100% do capital alocado. É uma perda permanente de capital.

A questão é que as pessoas olham a volatilidade de preços como se fosse um risco qualitativo do ativo, e isso não é verdade. Volatilidade é somente relacionada ao preço, ou seja, risco de mercado. Qualidade é inerente aos fundamentos, no caso de ações, se a empresa é sólida ou não, rentável ou não, lucrativa ou não, tem crescimento ou não etc.

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Mas como é comum olhar apenas para a volatilidade para medir o risco, os investidores não acostumados a avaliar este tipo de risco compram cotas de fundos de crédito privado porque não há muita variação e acham que isto significa ter pouco risco.

Por essa razão, nos últimos cinco ou seis anos muito dinheiro migrou para esses fundos em detrimento dos fundos de ações. Em 2022, principalmente, a quantidade de resgates registrados em fundos de ações e fundos multimercados foi gigantesca.

Mas nos últimos muita gente perdeu dinheiro por causa da alta inadimplência e reprecificação de curvas de risco, inclusive de títulos públicos federais. E se, com a alta de juros, a inadimplência aumentar, a quantidade de dinheiro perdido será muito maior. E não tem volta.

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Respondendo à pergunta central, pelas razões citadas não acredito que o mercado de crédito seja uma opção melhor do que o mercado de ações, mesmo neste momento de altas variações da Bolsa. Isso porque, mesmo que a ação perca 30% do valor, o investidor não precisa, necessariamente, desfazer-se dela. É importante saber o que está comprando e ter uma visão do que é risco muito clara. Diferente de uma operação de crédito, quando um bom ativo, uma boa empresa, cai 30%, compra-se mais, pois a margem de segurança aumentou. É um movimento antinatural para investidores, que com medo, resolvem resgatar tudo executando uma perda temporária.

Se o investidor conhece bem o ativo, os fundamentos da empresa, pode manter-se como acionista que, no limite, vai continuar a receber dividendos,  juros sobre o capital, ganhar novas ações como prêmio, entre outras possibilidades que irão remunerar seu capital. Além disso, invariavelmente, quando o investimento está correto, o preço da ação volta a subir. Com o crédito é ao contrário: se o devedor não pagar, a perda é total.

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Fernando Luiz

sócio fundador e gestor da Trópico Investimentos