Libra tem menor valor frente ao dólar em 30 anos com ameaças fiscais no Reino Unido; real perde 2,5%

Temores fiscais na Europa aumentam aversão ao risco global e acabam por impactar moedas emergentes; real sofre também por eleições

Vitor Azevedo

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O mercado de câmbio começou a última semana do mês de setembro com fortes oscilações. Nesta segunda-feira (26), o dólar avançou 2,53% frente ao real, cotado a R$ 5,38. A libra esterlina, por sua vez, é negociada a US$ 1,06, patamar não visto desde 1985, por conta do anúncio de um novo pacote fiscal no Reino Unido – após ter chegado, durante o final de semana, a ser negociada a US$ 1,03.

“O grande drive para a tensão no mercado de moedas foi o pacote fiscal anunciado na Inglaterra, que diminui a arrecadação do novo governo do país, colocando em xeque a política fiscal”, diz Ermínio Lucci, CEO da BGC Liquidez. “Efetivamente, houve um sell off dos bonds ingleses, o que respingou na moeda”.

Após o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) ter subido o juros 0,5 pontos percentuais na última quinta, para 2,25% no ano, a equipe da nova primeira ministra do país, Liz Truss, anunciou, na sexta, um corte de impostos na escala de 45 bilhões de libras.

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Este anúncio se somou a um pacote de estímulos de 60 bilhões, voltado ao auxílio do pagamento das contas domésticas de energia elétrica.

Ao mesmo tempo, nesta segunda, o BoE voltou a afirmar que monitora a variação da moeda do Reino Unido e que “não hesitará em mudar as taxas de juros conforme o necessário para a inflação retomar à meta de 2% ao ano”. Em agosto, os preços no país acumularam alta de 9,9% na base anual.

Uma menor arrecadação do governo, por conta dos estímulos, em meio à inflação elevada e a um ciclo de alta dos juros, levou a uma pressão de alta nas taxas dos títulos públicos do país, com investidores cobrando maiores prêmios para realizar aportes nestes.

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Juros britânicos avançam em meio a aumento dos gastos públicos

A taxa do título britânico com vencimento em seis meses subiu de 4,23% para 4,729%, e a do com vencimento em um ano avançou 2,90%, a 4,165%.

“Mais gastos significam mais juros. Se o banco central não der a alta, isso significará ajuste direto no câmbio”, explica José Raymundo Faria Junior, sócio da Wagner Investimentos. “E, mesmo com o BoE aumentando as taxas, o câmbio sofre por perda de confiança por parte dos investidores”, acrescentou.

De acordo com o especialista da Wagner Investimentos, a movimentação britânica ainda gera o temor de que outros países europeus atuarão da mesma forma, em uma espécie de “reação em cadeia”.

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O Velho Continente, com a aproximação do inverno, deve ver o problema da falta de gás se agravar, em meio ao corte de fornecimento do produto pelos russos, em resposta às sanções impostas pelo ocidente por conta da guerra da Ucrânia.

A Alemanha, hoje, anunciou que prepara um teto para o preço da eletricidade, que protegerá consumidores e empresas de novas altas. O euro fechou o dia negociado a US$ 0,96.

Dólar dispara no mundo

O DXY, índice que mede a força do dólar frente a outras divisas de países desenvolvidos, e que tem grande participação da libra e do euro, com tudo isso, foi a 114,08 pontos, maior nível desde abril de 2002.

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“A gente viu o Federal Reserve com um discurso de que continuará subindo juros para conter a inflação na última semana, o que vem acontecendo agora também nos bancos centrais europeus”, contextualiza Renan Mazzo, head de câmbio da SVN Investimentos. “O dólar ganha força por conta do cenário global turbulento. Investidores tendem a recorrer a moedas mais fortes e o dólar é a principal neste ponto”.

Na última semana, o banco central americano reforçou a mensagem de que continuará subindo suas taxas de juros para levar à inflação a meta e de que deve manter estas elevadas por um período mais longo de tempo.

A sinalização diminuiu o otimismo de parte do mercado, que via que a desaceleração de alguns índices de preços como indicadores de que o Fed poderia ser menos “duro” nas contrações monetárias.

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Real é impactado por exterior e questões internas

Felipe Steiman, Gerente de Desenvolvimento de Negócios da B&T Câmbio, vai na mesma linha: “Em um cenário de tensão global, com apertos monetários mundo afora para controlar a inflação e uma guerra ainda sem data para acabar, o temor de uma possível uma recessão fica ainda mais alimentado”, diz.

Por fim, Faria Junior acrescenta também que a moeda brasileira cai mais do que as outras por conta do cenário interno.

“Não podemos esquecer que estamos a cinco dias do primeiro turno e a eleição sempre eleva a volatilidade”, destaca o especialista da Wagner Investimentos.

“Há uma atenção especial, no Brasil, para as falas de uma possível derrubada do teto de gastos na eventual vitória de Lula. Isso também pressionaria o banco central local e também levaria a uma perda de confiança. Lembre que, na semana passada, o Comitê de Política Monetária não descartou uma nova alta”, acrescenta.

Para Faria Junior, na semana passada, houve uma “falsa melhora” do real em meio às notícias de que Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, poderia compor o governo Lula – o que, até então, não foi confirmado, apesar do apoio desse à campanha do ex-presidente.

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