Henrique Meirelles, Marina Silva, Boulos, Haddad e outros ex-presidenciáveis oficializam apoio a Lula

Ex-presidente do BC elogiou indicadores econômicos do governo Lula; Boulos e Luciana Genro disseram que foi criada uma frente antifascista

Anderson Figo

Ex-presidenciáveis oficializam apoio a Lula nas eleições 2018
Ex-presidenciáveis oficializam apoio a Lula nas eleições 2018

Candidatos à Presidência da República em eleições passadas se uniram nesta segunda-feira (19) em um hotel em São Paulo para oficializar seu apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa pelo Planalto em 2022.

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Estavam presentes Guilherme Boulos, que concorreu em 2018 pelo PSOL; Luciana Genro, que concorreu em 2014 pelo PSOL; Cristovam Buarque, que concorreu em 2006 pelo PDT; Marina Silva, que concorreu em 2010 pelo PV, 2014 pelo PSB e em 2018 pela Rede; Fernando Haddad, que concorreu em 2018 pelo PT; Henrique Meirelles, que concorreu em 2018 pelo MDB; e João Vicente Goulart, que concorreu em 2018 pelo PPL.

O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, candidato a vice na chapa com Lula em 2022 e candidato à Presidência da República em 2018, também estava no evento, que foi transmitido ao vivo nas redes sociais de Lula.

“Todos nós aqui fomos candidatos, presidente Lula, à Presidência da República. Em momentos diferentes, mas todos fomos candidatos. Tínhamos projetos diferentes para o Brasil, mas sempre tivemos algo em comum, que é a pedra basilar, o princípio, que é o respeito à democracia e o respeito ao povo brasileiro. É o que nos une neste momento singular e triste da história do Brasil”, disse Alckmin.

O apoio de Boulos e Haddad já tinha sido anunciado anteriormente, assim como Marina Silva, que na semana passada afirmou que sua reaproximação com o PT estava focada em pautas para o meio ambiente. Tanto Boulos quanto Luciana Genro disseram que a “união de forças políticas” ali presente formava uma frente antifascista, referindo-se ao atual governo de Jair Bolsonaro (PL).

“Nós vemos forças distintas do campo democrático brasileiro, com posições diferentes, mas se unindo justamente para preservar a democracia brasileira”, disse Boulos. “Todos conhecem nossas diferenças aqui nesta mesa. Elas são públicas. Mas nós estamos aqui hoje justamente para dizer que essas diferenças, por mais expressivas que sejam, são menores, neste momento histórico, do que aquilo que nos une para preservar a democracia brasileira.”

Luciana Genro criticou o atual governo. “É um projeto fascista, é um projeto racista, misógino, lgbtfóbico, um projeto discriminatório e violento”, disse. “Então, nós nos unimos aqui em torno de ti, meu prezado Lula, do teu nome, da tua força política, da tua liderança política enquanto uma referência de massas para o povo brasileiro, porque nós temos a convicção de que a tua eleição vai nos possibilitar respirar novamente”, completou.

Cristovam Buarque, que foi ministro da Educação durante o governo Lula, disse que ele “é o melhor que nós temos hoje para presidir o Brasil”. “Nós precisamos barrar o risco, a tragédia, o assombro da reeleição do atual presidente da República. E Lula, além de ser o melhor dos candidatos, é quem tem mais condições de barrar essa tragédia brasileira”, afirmou o ex-ministro.

Tanto Buarque quanto Luciana Genro falaram que a união de forças também pode evitar que o pleito de outubro tenha um segundo turno. Para que isso aconteça, é preciso que um candidato tenha pelo menos 50% mais um dos votos válidos no primeiro turno — votos brancos e nulos são desconsiderados.

A última pesquisa Datafolha, realizada entre 8 e 9 de setembro, mostra Lula na liderança com 45% das intenções de voto no primeiro turno, em cenário estimulado. Bolsonaro aparece na segunda colocação, com 34%. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

“Será uma tragédia termos o segundo turno. Eu não tenho dúvida de que ele [Lula] ganhará no segundo turno, se houver segundo turno. Mas serão quatro semanas imprevisíveis do ponto de vista de violência nas ruas, do ponto de vista de fake news para todos os lados”, completou Buarque.

Marina Silva disse é preciso uma “reconciliação do Brasil consigo mesmo”. “Hoje o senhor [Lula], é o que reune as melhores condições para nos ajudar a realizá-la e, sobretudo, para ajudar o povo brasileiro a realizá-la. Ontem eu participei de uma caminhada com o [Eduardo] Suplicy [candidato a deputado estadual por São Paulo], e foi impressionante a forma como as pessoas saíam de todos os lados me dizendo ‘que bom que agora estamos todos juntos’. (…) Existem momentos na história em que a gente percebe que há algo muito forte em jogo, que é a banalização do mal”, completou a ex-ministra do Meio Ambiente.

Meirelles, nome forte e estratégico para Lula, especialmente para tentar converter mais votos de agentes do mercado financeiro, fez um discurso no qual elogiou indicadores econômicos durante o governo do ex-presidente. Meirelles foi presidente do Banco Central de 2003 a 2011.

“O que interessa é emprego, é renda para a população e mostrar quem faz, quem realiza. Essa história de só falatório pode impressionar muita gente, mas eu acredito em fatos. Eu olho e vejo o resultado do seu governo e isso nos faz estar aqui. Portanto, vamos em frente, estou aqui com tranquilidade, com confiança, porque eu sei o que funciona e o que pode funcionar no Brasil”, disse Meirelles.

João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart, que foi deposto pelo golpe militar de 1964, defendeu a eleição de Lula para evitar o risco de uma nova ditadura. “Todos aqueles que lutaram pela democracia, que tombaram no caminho da restauração democrática, todos aqueles que, de certa forma, estiveram presentes junto às reivindicações do nosso povo brasileiro, estão hoje depositando as esperanças na sua condução e na sua futura Presidência da República”, disse Goulart a Lula.

“A luta é difícil, a união se faz necessária. E se faz necessária porque o Brasil está na frente de todos nós, o Brasil está na frente de nossas divergências.”, completou. “O Brasil hoje precisa da sua condução. O Brasil hoje precisa que a esperança desse povo seja realizada de forma ampla e absoluta. E que possamos extrair da cabeça de tantos brasileiros o ódio que se estendeu sobre a nação.”

Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e atual candidato ao governo do estado nas eleições 2022, falou que a união de nomes naquela mesma estava ali para “celebrar a diversidade, para celebrar as nossas diferenças”. Haddad concorreu ao Planalto em 2018 pelo PT, no lugar de Lula, que foi impedido de disputar o pleito naquele ano por sua condenação na Lava Jato.

“Do lado oposto, o que existe é o autoritarismo, que quer anular as nossas diferenças. E não existe democracia quando uma força política que está no poder quer anular as diferenças. As diferenças são justamente os fatores responsáveis pela formação de consensos cada vez mais sofisticados, que atendem cada vez mais as esperanças da nossa gente, do nosso povo”, disse Haddad.

‘Simboliza a reconstrução do Brasil”, diz Lula

Lula afirmou que o apoio de ex-candidatos à Presidência à sua candidatura simboliza a vontade de recuperar a democracia no país e disse que as instituições brasileiras estão desmontadas. O ex-presidente citou ainda o chamado “orçamento secreto”, que na prática transfere a deputados e senadores a definição de como serão usados recursos públicos.

“É um dia alegre porque essa reunião aqui simboliza a vontade que as pessoas têm de recuperar a democracia no nosso país. E todo mundo sabe que a democracia não é um pacto de silêncio, todo mundo silenciosamente vendo um governo governar. Não, a democracia é justamente o contrário: é a sociedade se movimentando dia e noite na perspectiva de conquistar melhores condições de vida para o povo brasileiro, para mulheres, para homens, para aqueles que trabalham no país”, disse Lula.

O ex-presidente disse que vai ter que recuperar a educação, aumentar a qualidade do ensino fundamental, e recuperar os órgãos de controle e fiscalização do meio ambiente. Lula também disse que tem que recuperar a cultura no país, citando que a Lei Rouanet “não existe nesse governo”, e chamando o presidente Bolsonaro de “ogro”. “A gente também tem que assumir compromisso com a população indígena”, disse o candidato, citando que está disposto a criar um ministério para os povos originários.

“Eu estou querendo chamar vocês para um desafio que é muito maior que governar. Governar é uma coisa velha. (…) Nós vamos restabelecer a palavra soberania na sua plenitude, redefinir o papel de cada um porque as instituições estão desmontadas, muitas vezes até desmoralizadas. Todo mundo sabe a briga que a gente vai ter para discutir esse tal desse orçamento secreto. Muita conversa, muita reunião para que a gente possa mudar o orçamento secreto”, completou Lula.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.