Petróleo: o “cabo de guerra” que tem levado à volatilidade dos preços da commodity

Opep+ e ameaças da Rússia de cortar fornecimento puxam preços para cima, enquanto temor de recessão e reservas estratégicas dos EUA vão no sentido contrário

Lara Rizério

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A semana tem sido movimentada para o mercado de petróleo. Já na segunda-feira (5), os preços da commodity subiram quase 3%, quando os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) concordaram com um pequeno corte de produção de 100 mil barris por dia para reforçar os preços.

“O corte e fornecimento não importa muito para os balanços globais de fornecimento. Entretanto, em termos de sinalização, a mudança é importante, pois indica que a Opep+ está observando a demanda de perto e está tentando administrar a oferta para manter um patamar nos preços do petróleo. Vários países (principalmente os Estados Unidos) apelaram para a Opep+ para aumentar a oferta”, apontou Noah Barrett, analista de Pesquisa para Energia e Serviços Públicos na Janus Henderson Investors.

Nas duas sessões seguintes, contudo, o petróleo voltou a registrar baixa, com o brent fechando abaixo dos US$ 90 o barril pela primeira vez desde 8 de fevereiro (antes do início da invasão da Ucrânia pela Rússia, que levou a uma disparada dos preços).

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Os dados comerciais chineses pessimistas alimentaram as preocupações dos investidores sobre os riscos de recessão, o que afetou o mercado. Isso em um contexto de desaceleração da demanda na Europa e aumento das taxas de juros pelo mundo para conter a inflação.

Já na quinta e na sexta-feira, o petróleo voltou a subir já que alguns traders técnicos compraram contratos e a Rússia ameaçou interromper as exportações de óleo e gás para alguns compradores. Vladimir Putin, presidente russo, ameaçou interromper as exportações de petróleo e gás se os preços máximos forem impostos pelos compradores europeus. Às 15h20 (horário de Brasília), o brent para novembro de 2022 subia 4,04%, a US$ 92,74.

O Grupo dos Sete (G7), que reúne as principais forças econômicas e políticas do mundo, confirmou no último dia 2 de setembro que pretende implementar um teto de preços ao petróleo produzido na Rússia, em tentativa de reduzir a receita do país por fontes energéticas e limitar sua capacidade de financiar a guerra na Ucrânia.

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O comunicado não trouxe detalhes sobre o teto, o preço inicial e data de implementação da medida. No entanto, o grupo afirmou que pretende alinhar suas decisões com as datas do sexto pacote de sanções da União Europeia (UE) contra a Rússia, que estabeleceu um teto de preços ao óleo cru russo a partir de 5 de dezembro, e para produtos refinados a partir de 5 de fevereiro do ano que vem.

Conceitualmente, tal teto de preço – se implementado de forma completa e bem-sucedida – permitiria que o petróleo russo fluísse ao mesmo tempo em que atingiria os objetivos da Europa de limitar as receitas de exportação de petróleo russo.

Contudo, na ocasião, a equipe de análise do Goldman Sachs havia destacado justamente que o principal risco para essa política seria o potencial de retaliação russa, o que transformaria a medida em um choque de alta adicional para o mercado de petróleo. “Coerente com as ações tomadas no mercado de gás natural, a Rússia poderia optar por retaliar, cortando compras do G-7 e fechando a produção, elevando assim os preços globais e suas próprias receitas, mesmo assumindo maiores custos logísticos para países não participantes do grupo”, apontaram os analistas.

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Nesta sexta, ministros de Energia da União Europeia não chegaram a um acordo sobre impor um teto após reunião extraordinária, após reunião com a comissária para Energia da UE, Kadri Simson. Segundo ela, a proposta está sendo “explorada”, mas enfrenta dificuldades para sua implementação.

As elevações de preços desde a véspera em meio às ameaças russas aconteceram apesar de fatores que, a princípio, podem impactar a demanda pela commodity: a alta surpreendente nos estoques de petróleo dos EUA, notícias de que os Estados Unidos estavam avaliando a necessidade de mais liberações de óleo de reservas estratégicas, além das já citadas preocupações com as extensões de bloqueio pela Covid-19 da China e o aumento das taxas de juros globais, que deve desacelerar a atividade econômica e atingir a demanda de combustível.

Efeitos das sanções

Neste contexto, a Levante Ideias de Investimento destacou que, antes das sanções começarem, em 5 de dezembro, a Europa segue importando mais de 1 milhão de barris de petróleo russo diariamente, em linha com o que já vinha fazendo há cerca de um mês.

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“Enquanto condenam publicamente a Rússia por suas ações na Ucrânia e asseguram publicamente a seus eleitores que as sanções estão funcionando, os políticos europeus (e outros) não mencionam as contínuas compras de petróleo russo. A Rússia está exportando cerca de 3,3 milhões de barris de petróleo diariamente (por mar), mostraram cálculos da Bloomberg, o que significa que a Europa está comprando um terço disso”, avalia a casa.

Desde junho, essa dinâmica não se alterou, sendo que foi o mês pelo qual o embargo foi aprovado, e desde então a Europa tenta encontrar fornecedores alternativos de petróleo.

“O petróleo cai um dia por causa de preocupações com a economia, enquanto os bancos centrais tentam combater a inflação com taxas mais altas nos Estados Unidos e na Europa. Então, no dia seguinte, o petróleo sobe porque um
funcionário da Opep sugere que o cartel pode reverter os planos de crescimento da produção e optar por cortes. Ou, um líder do G7 diz que as discussões sobre um teto de preço do petróleo russo estão progredindo. (…) Fica claro que o grau de volatilidade do preço do petróleo mudou, mas as fontes dessa volatilidade não. Como sempre, trata-se dos fundamentos, da economia e da geopolítica”, avaliam os analistas da Levante.

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Paralelamente, estão no radar as negociações para a retomada do acordo nuclear com o Irã, que poderia levar a um aumento da oferta global de petróleo caso fechado. Contudo, o Goldman destacou ver um acordo como improvável no curto prazo.

A Levante aponta que as oscilações extremas não devem durar, mas ainda deve demorar mais um pouco para que os preços estejam mais comportados, com esse cabo de guerra ainda influenciando os preços.

Desta forma, ainda que haja muitas visões negativas sobre a demanda para o petróleo com os riscos de recessão, o Goldman Sachs manteve a projeção do barril do brent em US$ 125 o barril para 2023. “A perda potencial das exportações russas em retaliação cria um risco de avanço substancial para nossa previsão altista”, afirmam os analistas.

O Bradesco BBI aponta que é difícil identificar as tendências dos preços para a commodity.

Enquanto isso, a volatilidade pode ser certa, uma vez que as notícias relacionadas ao fornecimento de gás natural da Rússia para a Europa podem mostrar um ponto de ruptura durante o inverno. Além disso, por um lado, a China pode começar a diminuir os bloqueios de forma mais acentuada nos próximos meses. Por outro, os temores de recessão, especialmente na Europa, aumentam, enquanto leituras negativas para a demanda de uso rodoviário podem mais do que ofuscar o aumento na demanda relacionado à geração de energia.

“Embora os preços do petróleo possam estar sob pressão em outubro após uma demanda mais fraca por petróleo, podem se recuperar em novembro/dezembro com a maior demanda por geração de energia no inverno do Hemisfério Norte”, avaliam os analistas do banco.

Conforme destacou Noah Barrett, analista de Pesquisa para Energia e Serviços Públicos na Janus Henderson Investors, deve-se esperar uma volatilidade contínua nos preços do petróleo, com indicadores de demanda global impulsionando os movimentos de preços.

(com Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.