Chile: Bolsa fecha em alta de quase 3%, enquanto peso tem volatilidade após população rejeitar nova Constituição

Os indicadores chilenos têm alta no mercado global em uma segunda-feira (5) de liquidez reduzida por conta do feriado do Dia do Trabalho nos Estados Unidos. Na Bolsa de Santiago, o índice S&P IPSA, que reúne as empresas de maior tamanho e liquidez, ultrapassou os 6 mil pontos na primeira hora de negociações, com uma alta de até 6,37%. O índice fechou com alta moderada, mas ainda expressiva, de 2,92%, a 5818 pontos.

Já a sessão para o peso chileno foi de maior volatilidade, com a moeda chegando a subir frente as principais moedas internacionais e seus pares latino-americanos, mas fechando em queda frente ao dólar e ao real. O peso chileno passou a cair por volta das 17h (horário de Brasília) 0,68% em relação ao real, a R$ 0,00584, enquanto caía 0,26% em relação ao dólar, a US$ 0,001133.

“O peso parece particularmente vulnerável devido ao grande déficit em conta corrente do Chile”, acrescentou a Capital Economics.

Já o índice de Bolsa local reagiu ao resultado do plebiscito realizado ontem no país. Mais de 60% dos eleitores votaram contra a proposta de uma nova Constituição, elaborada pela Convenção Constitucional chilena. A rejeição já era esperada, mas a ampla margem de diferença em relação aos que votaram a favor do texto surpreendeu. O plebiscito também contou com um número recorde de 13 milhões de votantes.

O texto proposta para a nova Constituição tinha um teor fortemente progressista. Um dos principais itens era a criação de um Sistema Nacional de Saúde Universal para solucionar o problema de falta de cobertura sanitária para a população mais carente.

Além disso, a proposta constitucional estabelecia um sistema previdenciário financiado por trabalhadores e empregadores para substituir o modelo de capitalização vigente desde a ditadura de Augusto Pinochet, que deixou milhões de pessoas com aposentadorias abaixo do salário mínimo.

Apesar de boa parte das mudanças propostas responder ao movimento de protesto que ocorreu em 2019 e que deu origem ao processo constitucional, a postura de muitos dos constituintes mais combativa levou a uma forte rejeição do texto por parte de setores da sociedade, com muitos chilenos vendo uma alteração excessiva de normas, do Judiciário ao poder do Executivo.

“Nossa percepção é que os mercados esperavam a rejeição do texto constitucional, mas por uma margem menor, em linha com o que havia sido sugerido por todas as principais pesquisas nas últimas semanas. Refletindo esse contexto, os ativos chilenos, especialmente a taxa de câmbio e o mercado de ações, tiveram bom desempenho recentemente. A margem importante sugere uma moderação nas propostas futuras, sugerindo uma maior valorização dos ativos”, apontam os analistas do Itaú, Andrés Pérez e Vittorio Peretti.

Em seus comentários após os resultados, o presidente Gabriel Boric apoiou um novo processo constitucional, reconhecendo que o Congresso seria o principal ator a decidir os próximos passos. Um novo processo constitucional requer a aprovação de quatro sétimos de ambas as câmaras do Congresso. De acordo com o SERVEL, órgão que organiza as eleições no Chile, levaria pelo menos 125 dias para se preparar para outra eleição que selecione os membros de uma nova Convenção. Em outras palavras, a eleição poderia ser realizada no mínimo em 6 de janeiro de 2023.

Pérez e Peretti apontam que eventuais mudanças nos ministérios devem ocorrer esta semana, mas a equipe econômica deve permanecer. As reformas tributária e previdenciária devem ser moderadas em amplitude e profundidade, refletindo um poder de barganha mais fraco após a rejeição do texto constitucional.

Olhando para o mercado de câmbio especificamente, o UBS BB apontou que não acha que o peso seria capaz de desfazer totalmente os prêmios associados ao cenário político, uma vez que os riscos fiscais permanecem consideráveis e ainda haverá esforços para reforma. A economia está perdendo ímpeto, os riscos de inflação permanecem em alta, enquanto os preços do cobre permanecem pressionados e a produção de cobre diminuiu nos últimos meses.

O Goldman Sachs ressalta que, apesar do resultado do plebiscito, o processo constitucional não terminará com a votação de domingo: a maioria dos chilenos ainda é a favor de uma nova constituição.

“Concordar em um caminho para produzir uma nova constituição ou reformar a constituição existente provavelmente levará mais de um ano. Em nossa avaliação, a incerteza provavelmente persistirá por pelo menos mais dois anos, potencialmente criando ventos contrários adicionais para investimento e crescimento. Assim, os investidores devem se preparar para a dinâmica macro e política volátil nos próximos anos”, avalia.

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