Com R$ 600 mil, é possível ter renda real de R$ 2 mil por mês?

Pergunta

Disponho de uma quantia de pouco mais de R$ 600 mil para investimento. Gostaria de saber a melhor maneira, no cenário atual, para investir esse dinheiro e se é possível manter um saque mensal num valor em torno de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil sem diminuir o poder aquisitivo da quantia ao longo do tempo.

Leitor: Mateus

Resposta de Renan Lima Silva, CFP, planejador financeiro certificado pelo IBCPF

Mateus, sempre no processo de decisão de investimento, é muito importante identificar o perfil de risco, os objetivos e o prazo para utilização da maioria dos recursos. A partir desta análise, é selecionado o investimento mais adequado para cumprir o objetivo desejado.

O cenário atual se mostra bem complexo, com muitas dúvidas e incertezas, refletidas nas oscilações dos investimentos. Ainda assim, possuindo uma estratégia bem clara, disciplina na execução e entendendo as características dos investimentos, certamente terá sucesso.

Para o objetivo pretendido, geração de renda sem diminuir o poder aquisitivo, existem duas estratégias adequadas na renda fixa: pós fixada ou indexada à inflação. A escolha dependerá do prazo para acessar o capital principal (R$ 600 mil), uma vez que as estratégias possuem dinâmicas distintas.

Caso pretenda resgatar o capital principal a curto prazo, a estratégia pós fixada é a ideal. Ela é caracterizada pela maior previsibilidade da rentabilidade, pois segue a taxa de juros de referência do mercado (SELIC). Descontando a inflação (IPCA) no período, tem-se o ganho real do investimento (taxa de juros real). Assim, o valor do saque mensal deve ser, no máximo, igual à taxa de juros real, para manter o poder aquisitivo do valor investido. Para o seu caso, imaginando uma rentabilidade média de 12,75% (SELIC atual) e inflação de 7,9% ao ano (IPCA últimos 12 meses), temos uma taxa de juros real de, aproximadamente, 4,5%. Aplicando a quantia de R$ 600.000, proporcionaria uma renda bruta de R$ 27.000 ao ano, ou R$ 2.250 ao mês. Nesta estratégia, o maior risco é a queda da taxa de juros real, o que impactaria no valor do saque. O Brasil possui a maior taxa de juros real do mundo, porém, considerando os últimos 12 anos, a tendência é de queda.

Caso tenha certeza do prazo para resgatar o capital principal, a estratégia indexada à inflação cumpriria o seu objetivo, por meio da compra de um título com vencimento na data desejada, que pague juros periódicos. Nesta estratégia, os investimentos são considerados híbridos, já que são indexados à inflação e possuem uma taxa de juros real (prefixada), como o título público “Tesouro IPCA + com juros semestrais 2020” que segue a inflação e possui uma taxa prefixada de, aproximadamente, 6% ao ano. É importante entender a dinâmica destes títulos, uma vez que sofrem impactos em virtude do movimento dos juros. Caso permaneça com o investimento até o vencimento, receberá a inflação do período mais a taxa prefixada. Mas se necessitar resgatar os recursos antecipadamente, seguirá a taxa do mercado, podendo sofrer um ágio ou deságio sobre o valor pago. Por isso, a importância de planejar bem este investimento.

Por fim, em ambos os investimentos deve ser descontado o imposto de renda sobre o resgate para chegar ao valor líquido a receber. Além disso, há opção de investir em títulos públicos (tesouro direto) ou privados (CDB, LCI, LCA, debêntures etc.), que podem ser selecionados de acordo com suas respectivas taxas e riscos. Desejo sucesso!

Renan Lima Silva é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF). 

As respostas refletem as opiniões do autor. O IBCPF e o Infomoney não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

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