A estratégia de Lula para defender apoio do Nordeste e enfraquecer a terceira via

PT rompe aliança histórica com PDT no Ceará, berço de Ciro Gomes, enquanto ala lulista no MDB deixa claro que Tebet não tem 100% de apoio no partido

Anderson Figo

(Ricardo Stuckert)
(Ricardo Stuckert)

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A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Nordeste foi efetiva em enfraquecer concorrentes da chamada terceira via no pleito de outubro, quando disputa novamente a Presidência da República. A avaliação é de cientistas políticos ouvidos pelo InfoMoney.

No fim de julho, Lula esteve em diversas capitais nordestinas conversando com líderes políticos de diferentes partidos em busca de apoio. Ele estava no Recife, inclusive, durante a convenção nacional do PT que oficializou a chapa Lula-Alckmin para as eleições de 2022.

A estratégia tinha um objetivo claro: costurar parcerias que pudessem minar ao menos um pouco as candidaturas de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), que já vinham sofrendo pressão do PT e partidos aliados para que abandonassem a disputa. E funcionou.

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Ciro foi confirmado candidato ao Planalto em convenção do PDT no dia 20 de julho, mas a sigla enfrentou o rompimento de uma aliança histórica com o PT, de Lula, no Ceará, berço de Ciro Gomes.

Em 24 de julho, o ex-governador do estado Camilo Santana (PT) anunciou a candidatura do petista Elmano de Freitas para o governo cearense. Na ocasião, ambos apareceram ao lado de Lula.

A decisão foi tomada depois da escolha do PDT por Roberto Claudio como candidato a governador do Ceará, após disputa interna com a atual governadora Izolda Cela.

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Izolda era apoiada por Camilo Santana, enquanto Roberto Claudio era o favorito de Ciro Gomes e o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.

O impasse levou a uma candidatura petista e outra pedetista que vão se enfrentar pelo governo do estado, em vez de uma chapa única, e, portanto, o fim da aliança entre PT e PDT na região.

Já Simone Tebet também conseguiu confirmar sua candidatura em convenção nacional do MDB, mas não por unanimidade. Foram 262 votos a favor e 9 contra.

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Em sua passagem pelo Nordeste, segundo analistas políticos, Lula conversou com lideranças do MDB na região, que pressionaram o partido a desistir da então pré-candidatura da senadora ao Planalto.

Eles chegaram a pedir ao ex-presidente Michel Temer que fizesse este apelo ao presidente nacional do partido, Baleia Rossi, o que não foi feito.

A justificativa era prezar pela união da sigla através de uma neutralidade, liberando as lideranças para apoiarem quem fosse mais estratégico para seus estados.

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Nesta terça-feira (2), Simone Tebet alfinetou o PT em evento para anunciar a também senadora Mara Gabrilli, do PSDB, como sua vice.

“Não serve o presidente que está e não serve o presidente do passado, porque, também de forma antidemocrática, quis o Partido dos Trabalhadores puxar o tapete da nossa candidatura. Eu sei. Um dia a história saberá”, disse.

Avaliações

Para o cientista político Leandro Consentino, professor do Insper, o resultado da campanha de Lula no Nordeste foi positivo para sua disputa ao Planalto.

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“Só o fato de quebrar parte do apoio dos adversários, de mostrar cisão na chapa dos adversários, já é um êxito importante. Não dá para imaginar que ele conseguiria arrebatar hegemonicamente todos os aliados de seus adversários, mas o fato de quebrar a narrativa de que o apoio ali seria integral já mostra algo bastante importante do ponto de vista da força que ele ainda tem na região”, disse.

“Por outro lado, é importante também para os adversários terem mostrado algum tipo de anteparo ao avanço lulista. Quer dizer que se tem algum apoio garantido ali, ele não é completo, não é total. Então, Lula teve um êxito, mas não um êxito completo, o que já é uma vitória numa pré-campanha tão acirrada quanto essa”, continuou.

O cientista político acredita que “o grande perdedor ali, sem dúvida nenhuma, é o atual presidente [Jair Bolsonaro, do PL], que mostra que tem uma dificuldade de inserção naquela região hoje em dia”.

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Apesar disso, o último levantamento Datafolha, divulgado na semana passada, mostra que Bolsonaro subiu de 19% para 24% das intenções de voto no Nordeste, reduzindo a diferença para Lula a 35 pontos percentuais.

Rogério Schmitt, cientista político da Empower Consultoria, cita que a campanha de Lula no Nordeste foi importante não apenas para enfraquecer adversários, mas também para correr atrás do apoio ao PT que foi perdido em 2018.

“Mais de 27% dos eleitores brasileiros estão no Nordeste. Se Lula repetir o mesmo desempenho de 2006, quando obteve 67% dos votos válidos na região [contra os 45% de 2002], ele ficaria muito próximo de uma vitória no primeiro turno”, disse.

“Na eleição de 2018, Haddad [com 43% dos válidos] fez o desempenho petista na região retroceder em quase duas décadas. O Ceará [terceiro colégio eleitoral nordestino] será particularmente decisivo, pois Ciro obteve cerca de 40% dos votos válidos cearenses há quatro anos”, continuou.

Segundo o último levantamento Datafolha, Lula aparece com 59% do eleitorado nordestino. “Isso certamente equivale a mais de 2/3 dos votos válidos na região. Por esse critério, a estratégia de Lula para o Nordeste está funcionando bem até agora.”

Vitor Oliveira, cientista político e sócio-diretor da consultoria Pulso Público, enxerga a ida de Lula ao Nordeste como um movimento de defesa às recentes investidas de Bolsonaro na região e não acredita que, neste momento, o ex-presidente vá entrar em confronto aberto com Ciro Gomes.

“Ele vai tratar a candidatura do Ciro com bastante deferência, vai ficar dando tapas com luva de pelica, no máximo, porque ele precisa do voto estratégico do eleitor do Ciro para vencer no primeiro turno. Então, o máximo que vai acontecer são ações mais de bastidor mesmo”, disse.

“Com o MDB, o PT vai jogar com as fraturas internas. Não deu para evitar a candidatura da Simone Tebet, mas a ideia vai ser desidratá-la e inviabilizá-la a ponto de evitar que eleitores lulista eventualmente votem nela”, completou.

Corrida pelo Planalto

Na semana passada, o Datafolha mostrou que Lula mantém a dianteira da disputa pelo Palácio do Planalto, com uma vantagem de 18 pontos percentuais sobre o presidente Jair Bolsonaro. Há, inclusive, possibilidade de vitória em primeiro turno.

Segundo o levantamento, realizado entre os dias 27 e 28 de julho, Lula tem 47% das intenções de voto — mesmo patamar de um mês atrás. Já Bolsonaro oscilou positivamente 1 ponto percentual, para 29%. A margem de erro máxima é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Ciro manteve 8% das intenções de voto, seguido por Simone Tebet, que continua com 2%. André Janones (Avante), Pablo Marçal (Pros) e Vera Lúcia (PSTU) têm 1% cada um.

Felipe d’Avila (Novo), Sofia Manzano (PCB), Leonardo Péricles (UP), Eymael (DC), Luciano Bivar (UB) e General Santos Cruz (Podemos) não pontuaram. Brancos, nulos e indecisos somaram 9%.

Considerando os votos válidos — ou seja, excluindo brancos, nulos e abstenções —, Lula conta com a preferência de 53% do eleitorado, contra 33% de Bolsonaro. Se a eleição fosse hoje, tal desempenho configuraria vitória do petista em primeiro turno.

Segundo blog de Julia Duailibi, do G1, o Avante deve anunciar na próxima quinta-feira (4) a desistência da candidatura de André Janones à Presidência para formalizar apoio a Lula.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.