A inflação é um conceito econômico conhecido entre os brasileiros, associado diretamente ao consumo. Mas o que é inflação, de fato? Quais são as causas da inflação? Por que essa palavra causa tantos impactos na economia? E, mais importante: por que a inflação tem uma relação direta com o seu dinheiro?

Esse guia produzido pelo InfoMoney vai esclarecer por que essa palavra está tão presente no dia a dia das pessoas. Nele, você vai conhecer como funciona a inflação, quais são os principais índices que mensuram a inflação, o que pode ter um impacto direto nesse cálculo e quais são as suas consequências.

Spoiler: não há como se livrar dela, mas é possível, sim, fazer com que a inflação trabalhe a seu favor.

O que é inflação?

Inflação é um termo da economia usado para designar o aumento generalizado de preços de bens e serviços. Com isso, a inflação representa o aumento do custo e vida e a consequente redução no poder de compra da moeda.

Uma forma simples de perceber a inflação é indo ao supermercado. O preço dos produtos nas prateleiras não são os mesmos praticados 10, 15 ou 20 anos atrás: estão mais caros. A inflação também impacta nos valores de itens maiores, como aluguel e automóveis, ou itens de longo prazo, como a mensalidade de uma faculdade ou pós-graduação.

Esse aumento de preços não é necessariamente ruim ou prejudicial ao consumidor, principalmente quando é controlado, espaçado ao longo do tempo e vem acompanhado de reajustes nos salários-mínimos. Mas pode causar transtornos para consumidores – e para a economia de um país – quando aumenta em uma velocidade maior do que pode ser absorvida. 

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Quais são as causas da inflação?

Um aumento nos índices de inflação pode ser influenciado por diferentes causas, que podem ser agrupadas em quatro grandes grupos: 1) aumento na demanda; 2) aumento, ou pressões, nos custos de produção; 3) inércia inflacionária e expectativas de inflação; e 4) aumento de emissão de moeda.

As causas também podem ser divididas em de curto prazo ou um prazo maior, que aumentam de forma contínua durante meses ou até anos.  Dificilmente, no entanto, a causa da inflação será única.

Aumento na demanda

O aumento na demanda é uma das causas da inflação mais comuns – e simples de entender. Quando há pouca quantidade de um determinado produto que muitas pessoas querem consumir, o preço do produto tende a subir para equilibrar a oferta com a procura. Um exemplo é o que pode acontecer com o preço de uma garrafa de água. Quando o produto está na gôndola do supermercado, junto com muitas outras, o preço será um. Se, contudo, essa mesma garrafa for vendida em uma praia lotada, em um dia de sol, o preço cobrado será outro.

O mesmo pode ser observado com diferentes produtos. Quando há muitas pessoas querendo comprar um carro novo, por exemplo, a tendência é que o preço do produto aumente. Essa situação pode se repetir quando existe muita disponibilidade de crédito na praça, porque quando as pessoas têm maior poder de compra, podem consumir mais e, assim, aumentar a demanda.

Aumento nos custos da produção

A inflação por aumento ou pressões nos custos de produção também é conhecida como a “inflação de custos” ou “inflação da oferta”, e ocorre por fatores que impactam o preço final de um produto.

Pode acontecer, por exemplo, quando o preço da energia elétrica aumenta. Toda a indústria que precisa de eletricidade na sua produção passará a pagar mais caro por isso e, eventualmente, precisará repassar esse custo ao intermediador e ao consumidor final. Pode acontecer também quando o preço da matéria-prima fica mais caro e esse custo, mais uma vez, é repassado ao consumidor final.

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A inflação da oferta também acontece quando há aumento no preço de combustíveis (porque a logística nacional é dependente da malha rodoviária), quando há elevação em tarifas, taxas e impostos, e até quando há  quando acontece uma valorização do dólar diante do real, porque boa parte das matérias-primas e produtos comercializados no Brasil são do exterior e seus preços são aplicados na moeda americana.

A inflação de custos também pode causar uma crise na demanda que, por sua vez, geraria uma inflação de demanda. Isso porque se um produtor vê seus custos se elevarem para a fabricação de um produto, pode optar por produzir uma menor quantidade desse produto o que, por sua vez, não será suficiente para suprir a demanda de consumo.

Inércia inflacionária e expectativa de inflação

A inércia inflacionária e expectativa de inflação está relacionada ao processo em que a inflação passada gera uma expectativa de inflação futura.

Os reajustes de salários, aluguéis e outros serviços, podem levar a uma inércia inflacionária porque são baseados em um período anterior. A intenção, neste caso, é recompor a renda dos trabalhadores ou do proprietário do imóvel, que foi corroída pela inflação, mas esse tipo de indexação pode levar a uma retroalimentação da inflação.

Já a expectativa de inflação tem uma base comportamental. Um lojista, por exemplo, esperando uma inflação de demanda e de custos, pode antecipar o aumento de preços na sua loja justamente por uma expectativa de aumento generalizado de preços.

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Aumento de emissão de moeda

O governo também pode influenciar no aumento da inflação. No momento em que os gastos são maiores do que os arrecadamentos, em alguns casos pode ser preciso “imprimir” mais dinheiro — ou seja, emitir mais papel-moeda para acertar as contas. Quando isso acontece, existe um maior volume de dinheiro em circulação no mercado, mas esse volume não está associado a um aumento de produção ou geração de riqueza no país.

Dessa forma, o resultado é que com mais dinheiro circulando no mercado do que a quantidade de oferta de produtos e serviços, os preços aumentam.

Como a inflação é calculada?

A inflação tem um impacto direto em diferentes aspectos da vida dos consumidores: da alimentação básica até o preço de imóveis. Por isso, a inflação não é medida por um índice único.

No Brasil, entre os muitos índices que medem a inflação, o principal para calcular o seu valor oficial é o IPCA, um acrônimo de Índice de Preços ao Consumidor Amplo. Este indicador é chamado de amplo porque tem o objetivo de abranger 90% da população urbana no país e é calculado mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O IPCA determina a inflação de produtos e serviços do varejo consumidos por famílias que recebem de 1 a 40 salários mínimos e leva em conta os valores de uma cesta de produtos e serviços consumidos pela população,  como:

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  • habitação,
  • vestuário,
  • despesas pessoais,
  • transporte,
  • comunicação,
  • alimentação,
  • saúde
  • e educação.

Os pesquisadores do instituto entrevistam famílias para saber onde e o que compram. A partir dessa lista, são estipulados quais itens vão entrar na cesta de produtos mais consumidos pela população e o peso que cada um deles terá para o cálculo da inflação. O preço do arroz, por exemplo, alimente presente em quase todas as mesas brasileiras, terá um peso maior no cálculo do IPCA do que o preço do macarrão.

Feita a determinação de itens mais consumidos, os pesquisadores organizam outro relatório, desta vez com os comércios onde será feita a checagem de preços dos produtos mais consumidos. Com todos os dados reunidos, os técnicos do IBGE chegam aos valores dos índices para um determinado período.

Na prática, se os preços da habitação subiram 2%, os valores do setor elétrico aumentaram 2%, e os preços do setor de alimentação caíram 3,5%, o valor mensal da inflação será a soma dessas variações, considerando o peso que cada item possui.

Além do IPCA, existem outros índices que ajudam a medir a inflação em diferentes setores do comércio de bens e serviços, como:

  • Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC)
  • Índice Geral de Preços (IGP)
  • Índice de Preços no Atacado (IPA)

Esses índices medem os preços de bens e serviços de formas distintas, cada um com seu método.

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Quais são os principais índices de inflação no Brasil?

Na cesta do IPCA é calculada a variação dos preços dos bens e serviços consumidos na rotina das famílias brasileiras com renda mensal entre um e 40 salários mínimos. Cada item e serviço presente nessa cesta terá um determinado peso, de acordo com o consumo médio dele pela população.

Dessa forma, a função do IPCA é medir o valor do dinheiro com o passar do tempo. Mas essa cesta de produtos e serviços também muda. A versão recente de cesta de produtos e serviços do IPCA, por exemplo, inclui itens básicos e tradicionais como arroz e feijão, mas também produtos e serviços que que foram criados há pouco tempo, como serviços de streaming e transporte por aplicativo.

Como alguns serviços e a oferta de produtos varia de acordo com cada região do país, a localidade também é levada em conta no cálculo do índice. Atualmente, os dados são coletados em 16 capitais e regiões metropolitanas, cada uma com um peso diferente no resultado final.

IPCA

O IPCA é medido entre os dias 1º e 30 do mês. Mas, mensalmente, também é divulgada uma prévia desse índice, o IPCA-15, que usa as mesmas métricas do IPCA, mas é calculado com base em um período de coleta de informações diferente: do dia 16 de um mês até o dia 15 do mês subsequente.

INPC

Já o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), mede a variação dos valores dos produtos de bens e serviços para famílias com renda de até cinco salários mínimos, uma faixa da população de renda mais baixa e, portanto, mais sensível aos movimentos de preços de itens básicos. Como está focado em famílias de até cinco salários mínimos, o INPC serve como um termômetro para o reajuste do salário mínimo.

IGP

O IGP (Índice Geral de Preços), que é medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), tem outro objetivo muito específico: serve para registrar a alta dos preços que vão desde a matéria-prima usada em produção agrícola e industrial, até elas virarem bens e serviços, a serem adquiridos pelos consumidores finais.

O IGP foi criado no final da década de 1940 e não foca no consumidor, mas no atacado e varejo. Para calcular o valor desse índice, é necessário fazer a média entre três outros índices existentes: 60% do valor do IGP é composto pelo IPA, o Índice de Preços no Atacado; outros 30% são compostos pelo INPC; e os outros 10% do IGP são compostos pelo INCC, O Índice Nacional de Custos da Construção.

O IGP dá origem a outros índices, como o IGP-DI, o IGP-10 e o IGP-M. O IGP-DI, Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna, assim como o IPCA, é medido o mês todo e é a parte da cesta responsável pela correção dos preços de telefonia.

IGP-10

Já o IGP-10 (Índice Geral de Preços – 10) faz a medição da evolução dos preços entre o período que vai do dia 11 do mês anterior e o dia 10 do mês corrente.

IGP-M

O IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), por sua vez, faz a coleta de dados do dia 21 do mês anterior ao dia 20 do mês atual e, além de fornecer um panorama da economia pode ter um impacto direto no bolso dos consumidores que moram de aluguel. Isso porque o índice do IGP-M é, normalmente, usado como base para o reajuste de tarifas e contratos como os alugueis comerciais e residenciais.

Outros indicadores

O IPA (Índice de Preços no Atacado), também medido pela FGV, estima o ritmo dos preços que são trabalhados no comércio atacadista, nas transações entre empresas, que são feitas antes das vendas no varejo. Esse índice também reflete o valor adicionado na produção de bens agropecuários, industriais, bens finais dos setores da alimentação, máquinas e equipamentos, matérias-brutas agropecuárias e minerais. 

Já o IPC-S (Índice de Preços ao Consumidor Semanal) é bem parecido com o INPC, mas mensura os preços da alimentação, produtos de limpeza, higiene e serviços, a cada 10 dias.

Há ainda o IPC-Fipe (Índice de Preços ao Consumidor), calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Esse índice mede a variação dos preços dos produtos consumidos na cidade de São Paulo e mostra a variação do custo de vida médio de famílias que têm renda entre 1 e 10 salários mínimos.

Consequências

A principal consequência da inflação é a perda do poder de compra ao longo do tempo, com o aumento dos preços das mercadorias e a desvalorização da moeda.

Outra consequência está associada ao rendimento real em investimentos. O rendimento real ou a rentabilidade real é aquela conseguida em uma aplicação, descontada a inflação. Se um investimento teve um retorno de 10% ao ano e a inflação no período foi de 2% ao ano, sua rentabilidade real foi de 8%. Mas se um investimento teve esse mesmo rendimento, de 10% ao ano, em um período em que a inflação foi 11%, a rentabilidade real foi negativa: isto é, mesmo rendendo alguma coisa, o investidor “perdeu” dinheiro.

É isso que pode acontecer com aplicações como a poupança, cuja rentabilidade está atrelada à Selic, a taxa básica de juros da economia. Se a Selic ficar abaixo da inflação, a rentabilidade real da poupança será negativa.

A inflação, contudo, pode ter um impacto ainda maior no cenário econômico. Uma inflação fora de controle, por exemplo, pode desestimular setores da economia a realizar investimentos e melhorias no país e causar incertezas com relação aos rumos econômicos na nação. 

Nesse sentido, seria possível imaginar que se o aumento generalizado de preços é ruim, a queda de preços, conhecida como deflação seria boa. Mas isso não é, necessariamente, verdadeiro.

O que é deflação?

A inflação não é uma vilã da economia. O Banco Central procura trabalhar para que a inflação se mantenha controlada e dentro de uma meta estabelecida, mas não para que os preços dos produtos comecem a cair ao ponto de ficarem mais baratos ao longo do tempo.

A ideia é que os preços cobrados se mantenham razoavelmente estáveis ao longo do tempo, com um crescimento que acompanhe, também, o crescimento do país.

Dessa forma, uma queda generalizada de preços, poderia gerar uma série de problemas para a economia. As causas que podem levar à deflação são relacionadas com aquelas que podem levar à inflação. Um aumento inesperado de oferta, por exemplo, pode fazer com que o preço de produtos caia e levar a uma série de efeitos em cascata. Maior oferta de produtos na prateleira leva a uma queda de preços, que leva a um prejuízo do fabricante que precisaria reduzir seus custos, reduzindo a produção ou demitindo funcionários, por exemplo.

Qual a inflação hoje?

O IPCA, que é o principal índice usado para medir a inflação, é calculado mensalmente pelo IBGE. Para avaliar a variação desse índice em período maior do que um mê, o valor do IPCA acumulado levará em conta os juros compostos e a variação que o índice teve nesse tempo.

De acordo com as informações divulgadas pelo IBGE, esses são os valores do IPCA mês a mês, e acumulado de 12 meses de 2021:

MêsÍndice do mêsÍndice acumulado em 12 meses
Janeiro0,25%4,56%
Fevereiro0,86%5,19%
Março0,93%6,09%
Abril0,31%6,75%
Maio0,83%8,05%
Junho0,53%8,35%
Julho0,96%8,99%
Agosto0,87%9,68 %
Setembro1,16%10,25%
Outubro1,25%10,67%

Os próximos dados do IPCA, referentes a novembro, serão divulgados no dia 10 de dezembro.

Como se proteger da inflação

A inflação tem um impacto direto para os consumidores, mas é possível proteger, ao menos uma parte do dinheiro, da inflação. Para conseguir isso, é preciso investir essa parte do dinheiro em alguns ativos específicos, com rendimento atrelado à inflação, como o Tesouro IPCA+, por exemplo, ou por meio de investimentos em empresas e ativos que tenham seus serviços e produtos atrelados à variação da inflação.

Títulos públicos

Um dos investimentos mais conhecidos cujo rendimento é atrelado à inflação é  Tesouro IPCA +. Este tipo de título paga uma taxa prefixada de juros mais a variação medida pelo IPCA para os investidores que carregarem o título até o seu vencimento.

Crédito privado

Títulos de dívidas de empresas, as debêntures, também podem ter uma rentabilidade atrelada à variação do IPCA. O mesmo pode acontecer com Certificados de Depósito Bancário, os CDBs, e as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs).

Fundos de investimento

Outra forma de investir para garantir seu poder de compra e ter uma proteção contra a inflação é por meio de fundos de investimento que aplicam, principalmente, em investimentos atrelados a índices de preços. Esses fundos podem ser chamados de fundos de inflação.

Fundos imobiliários

Outro tipo de investimento que também pode ser beneficiado com o aumento da inflação, é o fundo imobiliário. Algumas das modalidades desse tipo de aplicação podem ter contratos atrelados a índicas de inflação como o IPCA e o IGP-M.

Renda variável

Pelo mercado acionário, é possível atrelar uma parte de seus rendimentos à inflação, com investimento em empresas que tenham produtos ou serviços reajustados de acordo com a inflação.