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Caso não sejam controladas, as mudanças climáticas poderão levar a perdas econômicas de cerca de US$ 17 trilhões na América do Sul entre 2021 e 2070, além de causar a perda de 18 milhões de empregos e de 12% do Produto Interno Bruto (PIB) da região, o equivalente a US$ 2 trilhões. É o que aponta o estudo global “The Turning Point – Um novo clima econômico na América do Sul”, realizado pela consultoria Deloitte, por meio de sua divisão Deloitte Economics Institute.
“Essas perdas vêm de uma análise preditiva de um cenário em que nada é feito para conter os efeitos das mudanças climáticas”, diz Felipe Donatti, gerente da prática de sustentabilidade e ESG da Deloitte. “São custos com que as empresas terão que arcar, efeitos que governos e populações terão que enfrentar, por conta do impacto das mudanças climáticas como um todo, caso não haja ação imediata para conter o risco desses impactos.”
Essa situação negativa, no entanto, pode ser evitada: se o aquecimento global for limitado a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, a América do Sul escapa das perdas econômicas, tendo, até 2070, 2 milhões de empregos a mais em relação a um cenário de emissões intensas e impactado pelo clima, além de US$ 150 bilhões a mais de PIB. Para isso, é necessário que os países da região, por meio de seus governos, empresas e instituições da sociedade civil, comecem a agir imediatamente, ainda nesta década (2021-2030), pela descarbonização e por medidas ambiciosas de mitigação dos efeitos do aquecimento global.
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O relatório destaca que essas ações são urgentes para que seja possível que a América do Sul alcance, a partir de meados da década de 2060, o seu “turning point”, ou ponto de virada, momento em que os ganhos econômicos da descarbonização começam a superar os custos. Caso contrário, as mudanças climáticas trarão destruição e desequilíbrio dos ecossistemas naturais, afetando fortemente setores inteiros da economia e a vida da população.
As mudanças climáticas já afetam setores mais dependentes de serviços ambientais, como a agricultura, que pode sofrer consequências de secas e inundações e de possíveis barreiras de importação de produtos intensivos em carbono em alguns países. O setor continuará sendo impactado, mas o relatório da Deloitte aponta também que serviços, manufatura e varejo e turismo, que respondem por pouco mais de 80% dos empregos na região, poderiam sofrer as maiores perdas devido às mudanças climáticas. Até 2070, haveria redução do valor agregado bruto dos serviços na região em US$ 7,1 trilhões, redução da produção industrial em US$ 3,5 trilhões e perdas de US$ 2,3 trilhões no setor de varejo e turismo.
“É importante salientar que os riscos que surgem das mudanças climáticas afetam todos os setores. Cada setor e cada região onde o setor opera serão afetados de uma determinada forma, mas todos de alguma maneira vão ser afetados, porque a cadeia produtiva vai ser afetada. Se aquele setor diretamente não sentir o impacto climático, o fornecedor dele ou outro parceiro de negócios vai sentir de forma direta, e isso vai acabar afetando a operação da empresa de maneira indireta”, explica Donatti.
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Mais pobres serão mais afetados
As consequências das mudanças climáticas devem ser sentidas com mais intensidade por pessoas em situação de pobreza na América do Sul. Segundo o relatório da Deloitte, até 2030 as mudanças climáticas reduzirão a produtividade agrícola, ameaçando a segurança alimentar das populações mais pobres, principalmente no Nordeste do Brasil e em partes da região andina.
Felipe Donatti explica que regiões mais vulneráveis e menos desenvolvidas têm menos resiliência climática, conceito de quanto uma determinada região ou população é capaz de se adaptar ao novo cenário imposto pelo aquecimento global. “Essas regiões sofrem mais com os impactos e têm menos capacidade de se recuperar. Isso tem que ser considerado, é preciso refletir sobre como focar nessas regiões para que elas aumentem a sua resiliência climática, ao mesmo tempo que a gente direciona esforços para diminuir o agravamento das questões climáticas”, diz.
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O aspecto social, portanto, não deve ser deixado de lado durante a transição para uma economia de baixo carbono, com os investimentos e medidas de mitigação de riscos sempre considerando toda a população, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Na transição para uma economia de baixo carbono, temos o conceito de transição justa, que visa incorporar como garantir que essa parcela mais vulnerável não fique de fora dessa transição. Ao mudar processos e tecnologias, eventualmente teremos uma mudança em perfis profissionais, então, como garantimos que não sejam perdidos empregos, como capacitamos essa população para os novos postos de trabalho que vão surgindo? É preciso garantir a inclusão dessas pessoas, para que ninguém seja deixado para trás dentro dessa transição”, diz Donatti.
Brasil pode liderar transição energética
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Segundo o executivo da Deloitte, o Brasil tem um perfil de emissões de gases de efeito estufa mais relacionado à agricultura, de uso da terra e de mudança no uso da terra, enquanto a maioria das outras grandes economias globais seguem um perfil de emissões atrelado à produção de energia.
“O Brasil tem uma posição privilegiada na questão da energia e pode liderar a transição energética para uma matriz mais limpa, mais composta por mais energias renováveis. Quanto às nossas emissões, podemos implementar mecanismos para reduzir o desmatamento, podemos reflorestar áreas e, com isso, há um ganho grande de captura de carbono. Então o Brasil tem uma vantagem grande nesses dois pontos”, afirma.
Donatti destaca, no entanto, que é preciso “mais ambição” na jornada do Brasil em relação à questão climática. “É importante reconhecer os avanços que tivemos até agora, tanto do lado empresarial quanto do lado do governo, mas não podemos nos contentar ainda. Porque, quanto mais tempo demorar essa transição, mais vai demorar para chegar o ponto de virada”, diz.
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