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A compra do Twitter (TWTR34) pelo dono da Tesla (TSLA34) Elon Musk foi, talvez, o principal assunto desta semana. Grande parte da internet se dividiu entre aqueles que acham que Musk irá melhorar a rede social e aqueles contrários ao bilionário, fora os vários debates sobre os desdobramentos políticos do feito.
Pouco debate se deu, porém, sobre o entorno da questão financeira da operação – e essa pode não fazer muito sentido. E a verdade é que, agora, o mercado já não vê mais a operação como tão provável assim.
As ações do Twitter operam nesta quinta, por volta das 15h, negociadas a US$ 49,63, abaixo dos US$ 54 oferecidos por Musk por cada ação, com investidores precificando a possibilidade do acordo ser deixado de lado.
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Para o analista James Collins, da OHM Research, por exemplo, a proposta de Elon Musk pela rede social é infundada ao se analisar o lado financeiro e corporativo. Além disso, já circulam comentários de que o bilionário estaria reavaliando sua proposta por conta dos possíveis impactos que a aquisição teria para a Tesla.
Compra do Twitter deixa gasto com dívida muito grande
De acordo com Collins, além de o Twitter ser uma empresa deficitária, a companhia que Musk herdará caso seja levada adiante a compra – por meio de uma holding a ser criada para abrigar a sua participação na rede social – será altamente alavancada, com uma dívida que será dificilmente paga pelos lucros operacionais.
A empresa resultante da compra contará, de acordo com o proposto, com cerca de US$ 25,5 bilhões em dívida feita para bancar a aquisição, dividida entre empréstimos com taxas fixas e taxas variáveis (isso em um período de alta dos juros nos Estados Unidos).
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“A despesa líquida de juros do Twitter para 2022 foi de US$ 16 milhões. Com base na proposta de aquisição pela holding de Elon Musk, com seus US$ 13 bilhões em dívida assumida e os US$ 12,5 bilhões em empréstimos com participações da Tesla, esse número aumentaria exponencialmente”, comenta o analista.
De acordo com a proposta de compra, US$ 12,5 bilhões dos empréstimos feitos pelo bilionário estão atrelados a um spread de 300 pontos-base acima do SOFR (taxa de juros interbancária americana, espécie de CDI) e US$ 13 bilhões com taxas variáveis, com amplos spreads sobre a variação da taxa de juros.
Segundo projeções, que levam em conta uma alta “conservadora” de juros pelo Federal Reserve de 200 pontos-base, o custo de financiamento para Musk levará a holding a ter um encargo de juros anualizado de US$ 1,98 bilhão.
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Em 2021, a receita operacional (Ebit, na sigla em inglês) do Twitter foi de US$ 288,26 milhões. O faturamento total no ano passado, então, ficou bem aquém das possíveis despesas de juros que a companhia terá a partir deste ano, com o empréstimo a ser realizado para possibilitar a sua compra.
Collins aponta ainda que a rede social terá vários outros gastos com a movimentação realizada pelo Elon Musk, pagando, por exemplo, os bancos responsáveis por auxiliar na movimentação, uma vez que existem uma série de trâmites burocráticos a serem realizados para concluir a operação.
“A Twitco entrará em seu primeiro ano como uma empresa privada precisando de US$ 2 bilhões (ou mais, se o Fed for muito agressivo) em despesas com juros. No entanto, o Twitter, como companhia aberta, gerou US$ 832 milhões em lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês)”, compara o analista da OHM.
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“Como um Ebitda de US$ 832 milhões cobre US$ 2 bilhões em despesas de juros anualizadas e US$ 1 bilhão de despesas de capital anualizadas?”.
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Collins abrange ainda que parte dos empréstimos feitos pela holding de Musk dependem do pagamento de dividendos pelas companhias controladas pelo bilionário – algo que nunca aconteceu.
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“Esta novela não está gerando nada além de taxas bancárias e elogios ao ego de Musk. No entanto, não gera fluxo, e este ‘House of Cards, assumindo a conclusão do negócio, causará danos colaterais, pois inevitavelmente entrará em colapso”, finaliza Collins.
Problemas políticos também podem fazer Musk mudar de ideia
Além do problema financeiro, segundo a agência de notícia Reuters, a aquisição do Twitter pelo bilionário tem outros motivos para não sair do papel e eles são, majoritariamente, políticos.
A China, por exemplo, produz atualmente cerca de metade dos veículos da Tesla – e o gigante asiático não vê o Twitter como uma rede social amigável. Em Hong Kong, manifestantes utilizaram a plataforma para impulsionar os protestos contra o Partido Comunista da China.
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No caso de uma aquisição de Musk – e se o bilionário manter a sua promessa de “maior liberdade de expressão” -, a Tesla poderá ser atingida indiretamente no caso de o Twitter voltar a apresentar problemas para os líderes políticos chineses. Não é improvável que as autoridades repreendam a montadora de carros no caso de problemas com a rede social.
E não é só na China que os ideais do excêntrico bilionário enfrentarão problemas. Thierry Breton, comissário da União Europeia responsável pela regulação de mercados, afirmou nesta semana que o Twitter continuará responsável por policiar conteúdo ilegal ou prejudicial, correndo o risco de ser banida no caso de não cumprir as demandas.
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