Nome completo: | Marcos Antonio Molina dos Santos |
Ocupação: | Empresário |
Local de nascimento: | Mogi-Guaçu, SP |
Idade: | 52 anos |
Fortuna: | US$ 3,68 bilhões* |
Falar de Marcos Molina sem falar de Marfrig é tarefa impossível. Os dois nomes caminham praticamente como sinônimos no mercado. Ele é o dono e atualmente preside o colegiado da Marfrig, a segunda maior produtora de carne bovina do mundo, com forte atuação nos Estados Unidos e América do Sul.
Molina fundou o frigorífico brasileiro Marfrig em 2000, quando tinha 30 anos e já trabalhava há cerca de 18 anos. Atualmente, a empresa é líder global na produção de hambúrgueres e uma das maiores empresas de proteína bovina do mundo. São cerca de 30 mil colaboradores em 21 unidades produtivas bovinas e 10 centros comerciais e de distribuição espalhados por quatro continentes. Os produtos da empresa são comercializados em mais de 100 países e a receita líquida da companhia somou R$ 85,4 bilhões em 2021.
Conhecido por ter um estilo simples, que em quase nada lembra os bilhões na conta bancária, Molina costuma andar sempre munido de um caderninho de anotações para tomar nota das principais ações. Quem convive de perto fala em um perfil assertivo e que não deixa nada para depois. Ele é um empreendedor intuitivo. Não fez faculdade, não lê livros de negócios e não recorre a consultorias de gestão.
Apesar da grandeza de seus negócios, os que conhecem Molina garantem que ele não perde um movimento e gosta de centralizar as decisões. Mantendo um tom de voz sempre receptivo, cobra respostas rápidas de seus colaboradores e prioriza ações pioneiras e inovação. Um exemplo disso é a marca Viva, linha de carnes “carbono neutro” desenvolvida em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Molina aparece no ranking da Forbes com uma fortuna pessoal estimada em R$ 3,6 bilhões. O executivo não é adepto às redes sociais e não mantém perfis abertos em nenhuma das principais plataformas. Também não é figura constante nas colunas sociais e concede poucas entrevistas, que quando acontecem, focam apenas nos negócios.
Entre seus principais feitos, além da criação da Marfrig, estão a oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) no Brasil, em 2007, a aquisição e a venda da Seara, a participação do BNDES no seu negócio, a compra bilionária de ações da própria empresa e as tratativas para ganhar controle na BRF.
Quem é Marcos Molina?
Neto e filho de açougueiros, Marcos Molina parecia já ter o destino traçado quando aos 12 anos começou a trabalhar atrás do balcão do açougue da família, em Mogi-Guaçu, no interior de São Paulo.
Foi no pequeno açougue que Molina descobriu, de fato, sua vocação, que ia além do comércio da família e mirava o empreendedorismo intuitivo. Com 16 anos, pediu ao pai que o emancipasse para montar um negócio de distribuição de miúdos.
Antes mesmo de começar o negócio já tinha os clientes garantidos, conquistados no comércio do pai. A pequena empresa começou a atuar na cidade, depois ganhou a região e chegou a Campinas antes de alcançar a capital paulista. Aos 28 anos, sem ter feito faculdade ou alguma especialização, Molina já era um fornecedor de cortes nobres e importados para os melhores restaurantes e churrascarias de São Paulo.
Com uma base de clientes robusta, Molina foi do negócio de distribuição para a aquisição de frigoríficos. O primeiro, em 2000, foi o Bataguassu, em Mato Grosso do Sul. A partir daí começa a história da Marfrig.
Marcos Molina é casado com Márcia dos Santos, sua namorada de adolescência, com quem tem dois filhos. A esposa sempre o acompanhou na trajetória dos negócios e virou sócia integrante do conselho de administração da Marfrig. Desde o início da jornada, o casal tomava decisões em conjunto e por muitos anos viajaram em família para conhecer novos frigoríficos antes de aumentar o portfólio.
Marcos Molina: da história ao IPO
Depois de ser emancipado e criar seu negócio de distribuição de carnes, Marcos Molina nunca mais parou de trabalhar e aumentar seu patrimônio.
A Marfrig foi fundada em maio de 2000 e começou com a compra de um frigorífico em Bataguassu, em Mato Grosso do Sul. Nos anos seguintes, a expansão se deu em unidades de Promissão (SP), Paranatinga (MT) e Tangará da Serra (MT).
Em 2006, a empresa comprou algumas unidades de processamento de carne bovina em Goiás, Rio Grande do Sul e Rondônia. Foi a partir daí que passou a exportar para Argentina, Chile e Uruguai.
O ano de 2006 foi decisivo para a companhia, que buscava mais transparência diante do mercado, como a profissionalização, adequação para o sistema contábil internacional e ações de governança corporativa.
No mesmo ano, a Marfrig comprou os frigoríficos Frigoclass, em Promissão (SP), ABP, na Argentina e Tacuarembó e Elbio Perez Rodriguez, no Uruguai. Também fez uma joint venture com a trading chilena Quinto Cuarto. Por último, anunciou a compra do Pampeano, de Ulha Negra (RS), que pertencia ao irlandês James Cleary.
E foi em 2007 que a Marfrig decidiu que era hora de alçar voos ainda maiores. No dia 29 de junho, a companhia anunciou sua oferta pública de 52,2 milhões de ações, na época a R$ 17 cada, e entrou na Bolsa de Valores de São Paulo.
Dinheiro Público
A Marfrig é uma das ‘Campeãs Nacionais’, nome dado às empresas que participaram de uma política implementada durante o mandato do então presidente Luis Inácio Lula da Silva. A política consistia em oferecer apoio do Estado, principalmente por meio da atuação do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a algumas empresas selecionadas para que se tornassem capazes de competir globalmente.
O banco público destinou cerca de R$ 40 bilhões para essas companhias, entre crédito subsidiado e compra de participações acionárias.
O BNDES injetou quase R$ 1 bilhão em capital na Marfrig entre 2007 e 2009 e ainda aceitou comprar mais R$ 2,5 bilhões em títulos de dívida conversíveis em ações emitidas pelo frigorífico, em julho de 2010, para financiar a compra da americana Keystone Foods.
Em suma, a política de fortalecimento de grupos brasileiros beneficiou a empresa fundada por Molina por muitos anos. A Marfrig recebeu R$ 3,5 bilhões do banco de fomento.
Em 2017, os títulos foram convertidos em ações e o BNDES ampliou sua participação chegando a ter uma fatia de mais de 34% da empresa, encostando no fundador do frigorífico, que possuía 36,4%.
Em 2019, a política dos “campeões nacionais”, começou a ser desmontada oficialmente. Foi quando foi finalizada a venda de uma nova emissão de ações da Marfrig para que o banco de fomento pudesse vender a fatia que detinha no frigorífico. O BNDES colocou em seu caixa cerca de R$ 2 bilhões com a venda dos papéis.
Nessa época, Molina desembolsou R$ 390 milhões para comprar ações na oferta subsequente do frigorífico e aumentar sua participação. Desde então, o empresário seguiu com o ritmo de compras, sobretudo quando os papéis tombaram após a chegada da pandemia do novo coronavírus, e já desembolsou cerca de R$ 1 bilhão para aumentar sua participação na empresa.
As compras, inclusive, renderam problemas para Molina. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aceitou um acordo proposto pelo empresário, fundador e presidente do conselho de administração da Marfrig, para encerrar processo sobre suposto uso de informação privilegiada (insider trading). Ele pagará R$ 20,2 milhões.
De acordo com a acusação, Molina teria supostamente comprado ações ordinárias de emissão da Marfrig, em seu nome e de sua mulher, nos meses que antecederam o anúncio da aquisição de 51% do capital votante da National Beef, uma das maiores processadoras de carne dos Estados Unidos.
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Internacionalização da Marfrig
A internacionalização é uma estratégia recorrente da Marfrig praticamente desde sua fundação Depois de fazer a aquisição de algumas unidades de processamento de carne bovina em Goiás, Rio Grande do Sul e Rondônia, a empresa já começou a exportar para Argentina, Chile e Uruguai, antes mesmo de seu IPO.
Desde então, o foco em comércio internacional nunca saiu da mira. A lista de aquisições e estratégias comprovam a vocação internacional da empresa.
A começar pela compra da MoyPark, uma das principais produtoras de carne de aves da Europa, sediada na Irlanda do Norte, em 2008, que abriu espaço no velho continente.
Em 2009 houve a decisão da compra da Keystone Foods, empresa norte-americana especializada em food service, com operações em 13 países. Foi aí que os Estados Unidos ganharam ainda mais destaque no portfólio da empresa.
Em 2016, a empresa se tornou a primeira a exportar carne bovina in natura, a partir do Brasil, para os Estados Unidos.
No ano de 2018, a Marfrig fez a aquisição do controle da National Beef, quarta maior processadora de carne bovina dos Estados Unidos, além de anunciar a compra da Quickfood, na Argentina, líder local na produção de alimentos a partir da proteína bovina.
Os últimos anos foram marcados por mais aquisições, como da Iowa Premium, nos Estados Unidos, além do aumento da participação acionária na National Beef, de 51% para 81,73%.
Presente em 100 países, a Marfrig opera majoritariamente em duas regiões do mundo: na América do Norte e na América do Sul. Ela realiza o processamento e desossa de bovinos de corte nos Estados Unidos, Brasil, Uruguai e Argentina.
A empresa também produz industrializados, como carne enlatada, beef jerky, molhos, sachês. A produção é comercializada internamente e exportada para diferentes mercados.
Foco na proteína bovina
Em 2009, a empresa de Molina deu um de seus passos de maior destaque entre o público final ao anunciar a aquisição da Seara Alimentos, empresa do segmento de aves, suínos e produtos de alto valor agregado.
O negócio, na época avaliado em US$ 900 milhões, tinha como objetivo se tornar o segundo maior player no mercado interno e de exportação de aves e suínos e um dos maiores do mundo.
Um pouco antes, a companhia já tinha anunciado a compra das operações da americana OSI no Brasil e na Europa, além da DaGranja, reforçando a estratégia de apostar no segmento de aves. A Marfrig chegou a ser a segunda maior produtora de aves no país.
Contudo, em 2013 o jogo começou a virar. Com prejuízos recorrentes, a necessidade de mudar a estratégia era evidente. Por isso, a empresa de Molina decidiu dar uma guinada e vender a Seara Brasil para começar a focar em proteína bovina.
Em 2018, Molina participou de mais um passo em direção à estratégia de foco em proteína bovina e anunciou a venda da Keystone Foods.
De lá para cá, á sustentabilidade também tem ganhado espaço no discurso. Um exemplo é a linha de produtos bovinos obtidos a partir de animais originários de propriedades sustentáveis, comercializada sob a marca Viva.
A iniciativa foi desenvolvida em parceria com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e envolve o gado criado em fazendas nas quais as emissões de metano dos animais são neutralizadas pelo cultivo de florestas ou produções agrícolas.
Para se ter uma ideia, a Marfrig possui capacidade de abate de mais de 31,8 mil cabeças de gado por dia em suas unidades na América do Sul e América do Norte.
Marcos Molina na BRF
O nome de Molina permanece nos holofotes desde que ele protagonizou um dos lances mais ousados do mundo corporativo, que parecia inocente e agora caminha para o controle, ainda que parcial, da BRF, fruto da fusão entre Sadia e Perdigão.
Tudo começou quando, em junho de 2021, o frigorífico Marfrig anunciou a compra de 31,66% do capital social da rival BRF.
Na época, a empresa de Molina emitiu um fato relevante reiterando que a aquisição visava a diversificação de investimentos e que não havia a intenção de exercer influência sobre as atividades da companhia.
É importante lembrar que Marfrig e BRF são frigoríficos com posições complementares. Enquanto a primeira é focada em carne bovina, com forte presença no mercado norte-americano, a segunda investe em aves e suínos e tem uma presença bem relevante na Ásia e Oriente Médio.
Seria o retorno da Mafrig ao mundo das aves?
Em 2022, o movimento da Marfrig continuou e o montante de papéis subiu para 33,25%, índice próximo ao limite estabelecido no ‘poison pill’ (tradução de pílula de veneno, em português).
Uma cláusula presente no estatuto da BRF obriga o acionista que alcançar 33,33% de participação a comprar todos os papéis da empresa em uma OPA (oferta pública de ações), pagando 40% de prêmio em cima do preço médio das ações nos 120 dias anteriores.
No limite da sua fatia na BRF, a Marfrig de Molina mudou de postura e em fevereiro de 2020 anunciou em fato relevante que indicaria representantes para o conselho de administração da BRF para influenciar nas decisões da empresa.
No dia 28 de março ocorreu a votação para definir o novo conselho administrativo da BRF. A chapa montada por Molina, com dez membros , foi aprovada na assembleia de acionistas.
Para compor o time ele usou seu caderninho de contatos. Molina é o cabeça, como presidente do conselho de administração da BRF. Sergio Rial, que deixou o cargo de CEO do Santander Brasil recentemente mas segue como chairman do banco, é o vice-presidente do board. Além de Rial, o board também conta agora com Márcia Marçal dos Santos, esposa de Molina, que hoje divide o controle da holding que controla a Marfrig com o marido.
Do antigo conselho da BRF, somente dois nomes seguiram: Augusto Cruz, ex-CEO do Pão de Açúcar (GPA) e Flávia Bittencourt, presidente da Adidas no Brasil. Altamir Batista da Silva, banqueiro que trabalhou no JP Morgan e no Safra, Oscar Bernardes, ligado ao agronegócio, Pedro de Camargo Neto, que já foi vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Deborah Vieitas. CEO da Câmara Americana de Coméscio para o Brasil e Eduardo Pocetti, que é do conselho fiscal da Marfrig, são os outros novos nomes do conselho.
A possibilidade de união entre as companhias anima o mercado. Em uma possível combinação de negócios, com os balanços consolidados, as duas empresas somariam pouco mais de R$ 30 bilhões em valor de mercado, ainda atrás da JBS e da concorrente americana Tyson.
O faturamento chegaria a quase R$ 140 bilhões anuais e colocaria a nova empresa em terceiro lugar entre as gigantes alimentícias, atrás de JBS, que fatura R$ 300 bilhões, e da Tyson, com cerca de R$ 200 bilhões.
Como ponto de atenção, especialistas indicam a baixa sinergia da operação e as diferenças culturais entre as companhias, que representariam um risco para a combinação.
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