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A chegada de um novo ano costuma ser acompanhada da vontade de “fazer diferente”, “ser a sua melhor versão”, “mudar de vida” ou variações dessas frases. Essa vontade vem da ideia que um novo ano é como uma página (ou um capítulo) em branco, que pode ser preenchido com tudo aquilo que se espera alcançar.
Entre os americanos, o que metade da população espera (50%) é melhorar sua saúde ou fazer mais exercícios, segundo uma pesquisa que permitia escolhas múltiplas, realizada pela Statista. Em segundo lugar (48%) apareceu perder peso e, em terceiro, economizar mais dinheiro (44%). Melhorar a alimentação (39%), seguir uma ambição de carreira (21%), passar mais tempo com a família (18%) e menos com as redes sociais (13%) também apareceram bastante na pesquisa e listou ainda outras resoluções comuns por lá.
No Brasil não há um dado específico sobre metas e resoluções de ano novo, mas uma pesquisa realizada pela fintech Leve, que oferece soluções financeiras como benefício, mostrou que 52% das pessoas não possuem ou não sabem montar um planejamento financeiro e que 46% das pessoas não se sentem confiantes sobre como realizar metas de longo prazo.
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Como estabelecer metas
Para quem não sabe exatamente onde quer chegar, qualquer caminho serve. Esta é a ideia principal de um famoso diálogo entre os personagens Alice e o Gato Mestre no livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Embora a obra tenha sido publicada em 1865, ainda é possível tirar (ao menos) uma lição das suas páginas: a importância de estabelecer objetivos e metas.
Para desenhar as metas que pretende tirar do papel é importante levar uma série de informações em consideração. Uma boa analogia é a das férias: se alguém pretende viajar no período de férias, precisa planejar algumas coisas com antecedência, como a data da viagem, o destino e a bagagem. Com as metas (financeiras ou não) não é tão diferente assim.
Para a especialista em educação financeira Simone Sgarbi, quem ainda não fez suas metas já está atrasado. “Eu faço minhas metas em outubro do ano anterior para começar janeiro baseado no eu já planejei”, afirma. Mas se você ainda não desenvolveu suas metas, calma. É melhor começar agora do que nunca. Para isso, ela sugere cinco passos.
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Primeiro passo: qual é o seu sonho?
“A primeira pergunta tem que ser: qual é o seu sonho?”, diz. A partir desse sonho, sim, vem a necessidade de especificar. “Se você quer conhecer o nordeste, liste quais praias você quer conhecer, por quanto tempo quer ficar lá, com quem quer ir, vai ficar em hotel ou albergue?”, questiona.
Para Simone, é importante que você mentalize seu sonho, sinta como seria realizá-lo e o descreva para que ele fique mais palpável. “Nossa mente não faz distinção entre o que é verdade e o que é ficção. Então tire uns minutos e feche os olhos para imaginar a casa dos seus sonhos, como ela é, qual é o seu cheiro. Carimbe essa emoção no seu cérebro que ela vai te ajudar a dizer não quando alguém que te chamar para gastar o dinheiro do seu sonho com outras coisas”, diz Simone.
Segundo passo: quanto seu sonho custa?
“Orce o custo como se fosse realizar hoje: quanto custa a passagem, o hotel, o aluguel de carro. Isso vai te ajudar a economizar quando for possível, porque você vai saber quanto custa a passagem, por exemplo, ou hotel que quer ficar. Se aparecer alguma promoção, saberá se vale a pena ou não”, afirma.
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Ter o custo do sonho em mente também ajudará no momento de poupar e investir para a sua realização e até para ajustar o terceiro passo: o prazo.
Terceiro passo: quando vai realizar esse sonho?
Esse ponto é essencial porque determina quanto precisara ser poupado e investido para a realização do sonho. Se o prazo for fixo, como uma viagem para o exterior para estudar que precisa acontecer em determinado momento, isso terá um impacto nos valores que precisam ser guardados e investidos. “É o prazo, junto com o perfil de investidor, que vai ajudar a determinar quais riscos podem ser assumidos nos investimentos para a realização de cada sonho”, afirma Simone.
Quarto passo: esse sonho é alcançável?
Nada contra sonhos, mas para se tornar uma meta é preciso que esse sonho seja alcançável. Sonhar em comprar uma Ferrari em dois anos recebendo um salário mínimo, por exemplo, é um caminho certeiro para a frustração.
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“Eu recomendo que as pessoas descrevam ao menos quatro ações práticas que vão te ajudar a chegar mais perto de realizar e cumprir a meta. Se o sonho é comprar uma casa, por exemplo, a primeira ação pode ser juntar o dinheiro da entrada, depois fazer um financiamento, e assim vai, sucessivamente.
Quinto passo: por que esse sonho é relevante?
“É nesse momento que muitos clientes acabam riscando alguns dos sonhos que achavam que tinham, mas descobrem que, na verdade, só queriam aquilo por uma questão de status ou até inércia”, afirma Simone. Ela dá o exemplo de uma cliente que tinha o sonho de morar fora do Brasil e, dois anos atrás, entrou em um financiamento para comprar um apartamento. “Quando perguntei porque comprar o apartamento foi relevante para ela, ela respondeu ‘porque todo mundo está fazendo isso’. Essa dívida que ela contraiu para fazer o financiamento simplesmente não estava associada ao sonho maior dela que era viver fora do Brasil”, explica Simone.
A metodologia usada por Simone é semelhante ao método SMART de definição de metas, baseado nos 5 fatores que formam a palavra smart, na versão em inglês. Seguindo esse método, as metas precisam ser S (específicas), M (mensuráveis), A (atingíveis), R (relevantes) e T (temporal).
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Foco no prazo
Para a planejadora financeira Isabella Brandão, CFP, sócia da Oikos Consultoria Patrimonial, afirma que um dos pontos mais importantes ao estabelecer as metas é determinar o prazo. “Cada objetivo tem um prazo para acontecer. Aqui entram as noções de objetivos de curto prazo, realizável em até dois anos, médio prazo, que levam de dois a cinco anos, e longo prazo, acima de cinco, 10, 15 anos”, diz.
Ela alerta, no entanto, que prazos e valores podem mudar de acordo com o momento de vida de cada pessoa. “Estabelecer uma meta não é como escrever em pedra. Os objetivos mudam conforme o nosso momento de vida e fatores que estão fora do nosso alcance, por isso, além de focar nos prazos, é importante também definir as prioridades das metas”, diz.
“A prioridade de quem tem dívidas, por exemplo, não pode ser uma meta de se aposentar em 10 anos. Tem que ser pagar a dívida”, exemplifica Isabella. Na sua lista própria de prioridades, o que precisa sempre aparecer nos primeiros lugares é: 1) quitar dívidas curtas e caras (como cartão de crédito e cheque especial); e 2) formar a reserva de emergência. Depois que essas duas prioridades estiverem cumpridas, é possível pensar nos outros objetivos e metas, que podem ser cumpridos de maneira concomitante. “Não precisa atingir todas as metas de curto prazo para começar a correr atrás das metas de longo prazo. Tudo pode acontecer de maneira concomitante”, diz.
Como alcançar suas metas
Depois de saber quais são os seus sonhos e metas e quanto custa para realizá-los, vem a parte mais difícil: como bater as metas?
O educador financeiro Thiago Martello afirma que existem algumas maneiras para facilitar esse processo. “Quebre o valor total em partes menores. Se sua meta de acumulação for R$ 3.000,00 no ano, foque nos R$ 250,00 por mês, cerca de R$ 57,70 por semana (considerando 52 semanas no ano), ou apenas R$ 8,52 por dia (365 dias no ano). Estabeleça um período para guardar esses valores e considere também seu 13º na conta. Isso vai deixar tudo mais simples e você vai entender que pequenas ações contínuas podem gerar grandes resultados”, revela.
Para Simone, também é muito importante ter organização financeira. “Vamos aproveitar o começo do ano, para já orçar tudo que vamos gastar, inclusive com datas comemorativas, como Dia das Mães. Se organizando com essas contas, os sonhos podem passar a fazer parte disso e você pode assumir um compromisso com você de se pagar primeiro. Assim que o salário cair na conta, já transferir uma parte para a corretora, por exemplo”, afirma fazer parte da – boleto pra mim é o primeiro boleto que eu pago. Já transfiro pra corretora. Isso, segundo Simone, serve como uma proteção de ‘você mesmo’ que pode ver o dinheiro parado na conta e cair na tentação de gastar.
Outra dica que pode ajudar a economizar e bater as metas financeiras é quantificar a sua hora trabalhada. Para isso, divida o seu salário pelo número de horas trabalhadas no mês. “Toda vez que você pensar em comprar alguma coisa, vai conseguir pensar rápido se aquilo realmente equivale a duas horas de trabalho e fica mais fácil tomar suas decisões financeiras”, diz.
Além disso, é importante que as metas estejam escritas em algum lugar (não confie na memória) e que você acompanhe (e celebre) cada evolução. Dessa forma, o caminho até alcançar seus objetivos vai ficar mais leve e fácil de percorrer.