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SÃO PAULO – A decisão do governo de substituir Roberto Castello Branco pelo general Joaquim Silva e Luna na presidência da Petrobras atingiu em cheio o mercado e o otimismo de boa parte das gestoras brasileiras.
Quebra de confiança, atitude intempestiva e mudança importante de rumo das estatais estão entre os pontos mencionados por sete gestores para descrever os acontecimentos dos últimos dias, com críticas contundentes ao anúncio da substituição e a ameaça de mais mudanças em empresas como elétricas, além de referências a intervenções feitas durante o governo de Dilma Rousseff.
As incertezas passam a predominar nas rodas do mercado em um momento de fragilidade da economia brasileira e dificultam a tomada de decisões por parte das gestoras consultadas, com impacto nas próprias premissas macroeconômicas para a modelagem dos preços justos das ações. As próximas semanas tendem a ser cruciais.
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As ações da Petrobras vinham há algum tempo se destacando nas carteiras diante das mudanças implementadas pela gestão de Castello Branco, como a redução do endividamento por meio da venda de ativos. A visão de retomada global puxada pela China, com efeito direto sobre as commodities, também reforçou o tom das apostas favoráveis para as ações da estatal brasileira.
O discurso de gestores, contudo, tem mudado principalmente desde sexta-feira. “O governo vinha fazendo um trabalho muito bom em várias frentes, a Petrobras estava bem administrada, mas todo esse processo passa a ser questionado globalmente pelo investidor”, diz Reginaldo Lima, sócio da Vinland Capital, que considera a recém-anunciada mudança no alto comando da Petrobras um divisor de águas para a empresa.
Ainda que tenha reduzido parte das posições na sexta-feira (19), a Vinland segue com ações da Petrobras na carteira. Copel e Banco do Brasil também estão no portfólio da gestora, que deverá ser revisto diante da ingerência política na Petrobras. “Dada a situação que temos agora, vai ter coisa bem mais interessante para olhar que as estatais”, diz Lima.
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A Vinland segue otimista com as commodities de forma geral e tem na carteira papéis ligados à produção de açúcar e de minério, que devem ganhar maior relevância com a rotação do portfólio.
A perspectiva para o setor financeiro também é positiva, segundo o sócio, com o mercado impulsionado mais recentemente pelos maiores rendimentos dos juros nos Estados Unidos, o que abre espaço para uma alocação mais expressiva no Brasil. A ideia da Vinland, contudo, é se voltar mais para nomes de bancos privados.
“De modo geral, vai haver um sell off [movimento vendedor] de Brasil que vai ser causado pela venda de índice [Ibovespa] e que vai gerar oportunidade em todos os ativos. Com base nisso, vamos tomar nossas decisões, de olho na assimetria de risco”, afirma Lima.
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Para José Tovar, CEO da Truxt Investimentos, o grande problema da crise desencadeada na Petrobras não está na decisão em si de substituição do presidente, mas na forma como foi anunciada.
“Se ele [Bolsonaro] quisesse, não renovava o mandato do Castello Branco, mas fez de um jeito barulhento e ameaçou outras medidas. O arcabouço de dúvidas cresceu muito com o rompante de Bolsonaro”, afirma.
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A Truxt em si não tem posições em nenhuma estatal, mas Tovar é cético com relação a uma “renúncia” do mercado dos papéis da empresa. “Ninguém vai abandonar a Petrobras. As pessoas estão reduzindo, mas, a um certo preço, vale a pena comprar”, afirma. “O risco retorno ainda parece ruim, mas, em algum momento, tudo se adequa.”
Queda de 21%
As ações preferenciais da Petrobras (PETR4) encerraram o pregão com queda de 21,51%, negociadas a R$ 21,45, enquanto as ordinárias (PETR3) caíram 20,47%, para R$ 21,55. Também pressionados pelos investidores pelo risco estatal em ebulição, os papéis do Banco do Brasil (BBAS3) recuaram 11,64%, a R$ 28,83.
Segundo Isabel Lemos, gestora de renda variável da Fator Administração de Recursos (FAR), embora a perda de valor de mercado seja bastante significativa, já tendo ultrapassado a casa dos R$ 70 bilhões com a queda da ordem 20%, ainda não é possível cravar se o movimento foi exagerado ou se há espaço para quedas adicionais.
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“A princípio, se não houver grandes mudanças, me parece que o preço caiu demais, mas vamos ter de acompanhar os próximos passos”, diz a especialista, fazendo a ressalva de que a avaliação considera tão somente a manutenção da política atual da Petrobras sob a eventual presidência do general Silva e Luna, a ser referendada pelo conselho.
Ela reconhece, contudo, que o contexto no qual a mudança se dá, com declarações do presidente Bolsonaro em tom bastante crítico à gestão da empresa, não foi dos mais animadores para as perspectivas do negócio.
De toda forma, a gestora da FAR segue com as ações da petroleira na carteira do fundo Fator Ações FIC FIA até ter mais informações para mensurar o real impacto da troca na presidência da companhia em seu fluxo de caixa futuro. “Gostaria de ter zero nesse momento, mas [a posição em Petrobras] não é relevante para o fundo”, afirma Isabel.
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Ela avalia que ainda é preciso ter sinalizações mais claras e contundentes de que a política em andamento na empresa, que envolve a paridade com os preços do petróleo no mercado internacional e a venda de ativos, será mantida, antes de tomar uma decisão quanto ao investimento.
Esperar para ver
Na Gap Asset, que carrega ações da Petrobras nos fundos multimercados devido à visão positiva para as commodities de modo geral, o gestor Guilherme Motta diz que, embora a notícia seja negativa para a empresa e tenha causado surpresa, não vai vender nenhuma ação da petroleira por enquanto.
É preciso esperar para saber quais serão as implicações da troca no comando da empresa para a gestão do dia a dia e para a política de preços, explica.
“Quero entender qual será a destruição de valor, de fato, pela decisão do presidente”, afirma Motta, que entende ainda ser cedo para tirar uma conclusão a respeito do novo valor justo do ativo, frente aos seus fundamentos. “A Petrobras já é uma empresa extremamente barata, e já precificava riscos significativamente mais altos do que outras petroleiras lá fora.”
Ele chama atenção para os próximos passos do conselho de administração da Petrobras, que se reúne nesta terça-feira (23), na véspera da divulgação dos resultados de 2020, para deliberar, entre outros assuntos, a recondução de Castello Branco para mais um mandato de dois anos. A reunião é ordinária e já estava marcada para ocorrer.
Motta acredita que, pelo caráter de independência e a estrutura de governança estabelecida, o conselho de administração poderá frear o ímpeto de interferência política do governo na empresa.
Seja como for, apesar do esforço para enxergar o copo meio cheio, o gestor da Gap reconhece os estragos causados pelo Planalto nos preços dos ativos, parcialmente defendidos pelas proteções via derivativos que usualmente carrega, e que foram reforçados na sexta-feira.
“Na entrevista no sábado, Bolsonaro foi muito infeliz ao falar do setor elétrico, o que fez com que a tese de que o problema [de interferência política] esteja circunscrito à Petrobras perca força”, afirma Motta, que diz ainda que a Gap também carrega, em menor proporção, ações do Banco do Brasil, por entender que estão muito baratas frente aos pares privados.
Outra gestora que preferiu aguardar antes de se desfazer de suas posições foi a Equitas. Em conversa na manhã desta segunda-feira, Luis Felipe Amaral, fundador e gestor da casa, disse que a decisão dependeria do preço dos papéis e que a gestora ainda não havia decidido o que fazer, embora reconheça haver uma mudança importante de percepção sobre a companhia.
“A sinalização é muito clara: há pelo menos a intenção de mudar a política de preços da empresa. Mas se vai acontecer ou não, ainda não sabemos”, observa.
A venda de ativos da ordem de US$ 16 bilhões em 2019 foi bastante relevante para enxugar a estrutura da Petrobras e melhorar o retorno dos projetos, diz Amaral, mas a iniciativa fica “bem comprometida com a interferência”.
Quebra de confiança
Já na Apex Capital, desde o início do ano a casa começou a reduzir até zerar a presença de Petrobras na carteira dos fundos, conta o sócio e cogestor Alexandre Salfatis.
Além do preço do petróleo, que já havia subido bastante, ele diz que a gestora estava preocupada com a ameaça de uma nova greve dos caminhoneiros, com efeito sobre um repasse de preços da commodity para o combustível vendido no Brasil. Mas reconhece que não previa uma interferência na magnitude vista.
“É uma quebra de confiança que acaba afetando não só a Petrobras. É um sinal de perda de previsibilidade em relação às próximas medidas que poderão ser tomadas e outros setores a serem afetados”, diz.
Segundo Salfatis, a gestora decidiu não ter mais estatais na carteira também por conta da saída de Wilson Ferreira Junior da Eletrobras no fim de janeiro e pelas preocupações com relação à demissão do presidente do Banco do Brasil, André Brandão, conforme ameaça feita por Bolsonaro.
Sem Petrobras, com commodities
Sem estatais na carteira atual, com um aumento das preocupações em meio à escalada da pandemia de coronavírus e um temor antecipado com a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, a Brasil Capital acabou trocando as ações de Petrobras pelas da Vale.
“A questão dos repasses de preços e das interferências foi nos deixando mais receosos sobre a Petrobras e as estatais de maneira geral. Mas a retomada das commodities continua e temos investimentos importantes principalmente em Suzano e Vale”, conta André Ribeiro, sócio e gestor da Brasil Capital.
Além das duas empresas no portfólio, ele enxerga ações de companhias como Cosan, 3R, PetroRio e São Martinho como candidatas para abrigar parte do fluxo gerado pela venda de Petrobras do mercado como um todo.