WhatsApp Pay será aprovado pelo BC ainda no 1° semestre deste ano, diz presidente da Cielo

A Cielo é uma das parceiras do WhatsApp no projeto, que foi suspenso pelo BC há cerca de seis meses

Giovanna Sutto

(Divulgação)
(Divulgação)

Publicidade

SÃO PAULO – O Banco Central (BC) deve aprovar ainda no primeiro semestre a liberação do WhatsApp Pay, a solução de pagamentos do WhatsApp, afirmou Paulo Caffarelli, presidente da Cielo durante a teleconferência de resultados da empresa realizada nesta quarta-feira (27).

“O Banco Central exigiu que o WhatsApp Pay se cadastrasse como credenciador de pagamento, condição do regulador que respeito muito, já que haverá um volume crescente ao longo do tempo. A aprovação está muito próxima. Eu diria que ainda no primeiro semestre sai a autorização do BC, já que todos os requisitos do BC feitos às bandeiras [de cartão de crédito], que dizem respeito ao arranjo das coordenadoras de pagamento, foram realizados”, afirmou o executivo.

A Cielo é uma das parceiras do WhatsApp no projeto, que na prática vai permitir que as pessoas iniciem pagamentos e transferências no ambiente do aplicativo de conversas.

Continua depois da publicidade

O funcionamento da solução foi suspenso pelo BC há cerca de seis meses, desde que a empresa anunciou sua chegada ao Brasil em 15 de junho do ano passado. A autoridade monetária alegou a necessidade de avaliar questões de competição e privacidade, e, desde então, o projeto segue em compasso de espera.

Além da adquirente, o app, que pertence ao grupo do Facebook, havia anunciado que os cartões do Banco do Brasil, Nubank e Sicredi – das bandeiras Visa e Mastercard – seriam aceitos em um primeiro momento, mas que no futuro mais parcerias seriam concretizadas para ampliar o uso da ferramenta.

O InfoMoney entrou em contato com o BC para confirmar se há algum prazo estipulado para a liberação da solução. Em nota, a autoridade respondeu que “não comenta pleitos de instituições específicas”. Contatado, o WhatsApp disse apenas que “no momento não possui nenhuma informação adicional” – sem confirmar ou negar a informação.

Continua depois da publicidade

Ações da Cielo

A Cielo divulgou os resultados do quarto trimestre de 2020 nesta quarta-feira (27), abrindo a temporada de balanços das empresas listadas no Ibovespa. A companhia registrou aumento de 34,7% no lucro líquido do quarto trimestre na comparação anual, para R$ 298,2 milhões.

Os números vieram bem acima do esperado, com destaque para o lucro líquido, por uma combinação de foco no segmento mais lucrativo de pequenos clientes e uma política de redução de custos. Isso acabou por compensar os efeitos da queda de clientes e os efeitos prolongados da crise gerada pela Covid-19, ainda que a retomada da economia nos últimos meses do ano tenha ajudado também a impulsionar os dados da empresa.

Ao comentar os resultados do quarto trimestre da Cielo (CIEL3), Victor Hasegawa, gestor da Infinity Asset, disse que um dos gatilhos esperados para as ações da adquirente é justamente a parceria com o WhatsApp.

Continua depois da publicidade

“Não deve gerar uma grande receita no primeiro momento, mas o WhatsApp Pay é mais um gatilho que contribui para a expectativa de que o bom resultado do último trimestre do ano passado não será pontual e a companhia pode apresentar melhorias mais consistentes”, diz Hasegawa. “Eles estão mais assertivos e mais focados em pequenas e médias empresas, deixando de lado grandes empresas, que geram margens menores. E o WhatsApp Pay pode garantir mais mais uma linha de receita, que pode marcar um ‘turning point’ para a Cielo, por isso tendo a acreditar que ação pode subir neste ano”, completa.

Vale lembrar que no dia em que o WhatsApp anunciou sua chegada ao Brasil – e antes da suspensão do BC -, as ações da Cielo subiram 14%, após bater a máxima de 34%. “Esse acordo leva a um salto nas capacidades da Cielo no segmento de pequenas empresas e P2P (pessoa física para pessoa física), já que o WhastApp possui uma base instalada de usuários muito grande no Brasil”, avaliaram Jorge Kuri e equipe, analistas do Morgan Stanley quando a notícia chegou.

Durante teleconferência, a companhia apontou que vai vender alguns ativos não essenciais enquanto aguarda aval do Banco Central para uso do WhatsApp em pagamentos e amplia a oferta de produtos de crédito, como parte da reformulação do negócio para focar em pequenos lojistas.

Continua depois da publicidade

Em relatório, a Genial Investimentos vê a aprovação do WhatsApp Pay pelo BC como bem provável, mas pondera a parceria com a Cielo.

“Os resultados do quarto trimestre da Cielo mostraram uma recuperação considerável em relação ao pior trimestre de sua história, entre abril e junho de 2020, quando as perdas crescentes foram fortemente impactadas pela combinação difícil do ambiente competitivo e menores volumes em meio à pandemia. […] Além dos melhores resultados, vemos alguns gatilhos pela frente, como o WhatsApp Pay. Acreditamos que o BC aprovará a parceria de processamento entre o WhatsApp Pay e a Cielo após o lançamento bem-sucedido do Pix em novembro, embora provavelmente necessite de outros parceiros de processamento para evitar acordos de exclusividade”, diz o relatório.

Apesar de ter superado as expectativas no último trimestre de 2021, o que significou uma ótima notícia especialmente após um 2020 traumático, com os papéis registrando queda de 52%, os analistas ainda seguem cautelosos com a empresa. Isso porque alguns desafios seguem no radar, o que fez com que a maior parte das casas de análise que cobrem o papel sigam com recomendação neutra para o ativo em meio ao cenário competitivo ainda bastante duro, além de questões societárias pesando sobre a cotação (veja mais aqui).

Continua depois da publicidade

Histórico do WhatsApp Pay

O WhatsApp anunciou em junho de 2020 a chegada do novo recurso de pagamento e transferência dentro do aplicativo e o Brasil seria o primeiro país a recebê-lo. Com 120 milhões de usuários do aplicativo de mensagens, ou quase 60% da população brasileira, o país foi escolhido pelo Facebook para a estreia do app no setor de meios de pagamentos.

No dia do lançamento, no entanto, o BC considerou prematura qualquer iniciativa que pudesse “gerar fragmentação de mercado e concentração em agentes específicos”. E assim, uma semana depois do anúncio, a autoridade monetária suspendeu a solução, alegando a necessidade de avaliar questões de competição e privacidade. O movimento foi acompanhado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O órgão antitruste, porém, voltou atrás de sua decisão ainda no fim de junho.

Em meio ao impasse da potencial liberação do recurso, houve a liberação para que o serviço fosse testado, desde que sem transações de clientes reais. Apesar disso, a autoridade monetária deixou claro que essa permissão não fazia parte do processo formal de análise nem sinalizou quando a decisão final sobre o assunto seria dada.

Em agosto, a Cielo se posicionou sobre o assunto após a Comissão de Valores Mobiliários (CMV) questionar a empresa sobre a execução dos testes no mercado. À época, empresa afirmou ao InfoMoney que a nota do BC liberando os testes dizia respeito aos acordos entre o regulador e as instituidores de arranjo de pagamento e que não participava destas discussões porque ainda não havia sido “formalmente notificada”. A adquirente também explicou que não tinha uma interlocução direta com o BC sobre o tema, porque as conversas seriam “conduzidas pelas bandeiras de cartão”.

Além disso, surgiram rumores de que o BC estaria adiando a aprovação do WhatsApp Pay para dar prioridade ao Pix, seu sistema de pagamentos instantâneos, que começou a funcionar de forma plena em 16 de novembro do ano passado. A autoridade monetária, no entanto, não descartou a possibilidade de integração do WhatsApp ao Pix, cuja implementação deve ser feita pelos bancos com mais de 500 mil clientes até novembro.

Mais tarde, em outubro de 2020, o Banco Central aprovou a constituição de uma nova modalidade de instituição de pagamento, denominada iniciador de transação de pagamento, em que o agente em questão não participa do fluxo financeiro, e categoria na qual o WhatsApp Pay poderia se encaixar para conseguir atuar sem interferir em questões de competição e privacidade, já que na prática não teria acesso direto aos volumes financeiros transacionados, seria apenas um interlocutor e uma maneira que o usuário poderia usar para iniciar uma transferência ou pagamento.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, chegou a afirmar em meados de novembro que a solução de pagamentos do WhatsApp Pay começaria a funcionar “em breve” e priorizando as transferências entre pessoas físicas.

“Whatsapp vai entrar e vai começar fazendo P2P [person to person – transferência entre pessoas] em breve. Eu tenho conversado bastante com o CEO, inclusive ele tem me dito que o processo no Banco Central foi mais rápido do que em outros países. Estamos avançando bastante. Depois vamos para o modelo P2M [person to merchan – transferências entre pessoas e empresas]. Nossa preocupação é que [a empresa] passe por todos os processos de aprovação”, disse.

O modelo P2P inauguraria as transferências, portanto, enquanto o modelo P2M, que permitiria os pagamentos a estabelecimentos começaria a funcionar mais para frente. Mas o presidente do BC não precisou as datas. Até a declaração de Caffarelli, da Cielo, não havia uma estimativa para os brasileiros terem acesso ao novo serviço.

Quer ser trader e tem medo de começar? O InfoMoney te ajuda a chegar lá: participe do Full Trader, o maior projeto de formação de traders do Brasil e se torne um faixa preta em 3 meses – inscreva-se de graça!

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.