Dólar cai mais de 10% em um mês e bate mínima em 4 meses, mas até onde a queda pode ir?

Para analistas, conjunto de fatores ajudou na queda da cotação, mas agora a divisa parece estar em um patamar mais equilibrado

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Enquanto a bolsa disparava 16% em novembro, o dólar passou por um período de forte queda ante o real. Desde a eleição americana, em 3 de novembro, até a última quinta-feira, a moeda dos Estados Unidos registrou perdas de 10,8%, batendo seu menor patamar desde julho e indo de R$ 5,762 para R$ 5,14.

O movimento foi favorecido por um cenário mais positivo no exterior e por alguns eventos domésticos, mas se tratando do câmbio, ficou muita dúvida nos investidores de até onde se sustenta essa melhora do real contra o dólar.

Bruno Lavieri, economista e sócio da 4E Consultoria, afirma que via o câmbio em um “patamar estranho” acima de R$ 5,50  e que a cotação do dólar estava sustentada por uma visão de risco excessivo pelos investidores. “Esse temor até se justificava, mas agora vemos o câmbio corrigindo para um nível que condiz mais com os fundamentos”, explica.

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Nas últimas semanas, um grande fluxo de capital estrangeiro vindo para o Brasil favoreceu bastante o mercado doméstico, levando a um recuo do dólar ante o real. Mas foi o noticiário mais recente sobre vacinas contra o novo coronavírus que derrubou mesmo a cotação.

Isso porque, conforme os investidores enxergam que o mundo começará a caminhar para a normalidade com a distribuição das vacinas – ainda que no curto prazo haja um alerta de aumento de casos -, há uma busca por ativos mais arriscados.

Como o dólar é considerado um dos ativos mais seguros que existe, começa a haver um movimento geral de saída da moeda americana em momentos de maior apetite ao risco, fazendo com que ele perda valor ante seus pares globais. Em novembro, o Dollar Index, um índice que compara o dólar contra uma cesta de moedas, caiu 3,6%.

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Este movimento ocorre ainda em um cenário em que se espera que as taxas de juros nos EUA permaneçam baixas por um longo período, enquanto aumenta a expectativa de que em breve o Congresso americano aprove um novo pacote de ajuda econômica. Tudo isso enfraquece a moeda do país.

Em entrevista para a Bloomberg, Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, apontou que principalmente fatores externos pressionaram a moeda americana frente ao real na semana.

“Há expectativa de taxas de juros baixas em todo o mundo, esperanças em relação a um pacote de ajuda (fiscal) nos EUA e otimismo em relação a vacinas […] Isso acaba contribuindo para o bom humor dos mercados”, afirmou.

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Mas não foi apenas o exterior que ajudou na queda da cotação do dólar. Na última quarta-feira (2) o Tesouro Nacional emitiu US$ 2,5 bilhões em três tipos de bônus soberanos em dólar.

Essa foi a primeira vez que o Tesouro fez captação com prazos diferentes no mesmo momento. Os juros foram os mais baixos já obtidos em todas as captações do Tesouro.

Lavieri destaca que sua projeção já há algum tempo era de que o dólar terminaria este ano próximo de R$ 5,10, enquanto para 2021 vê a cotação podendo recuar para R$ 4,70 até o fim do ano.

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Segundo ele, o cenário externo tem melhorado e está ajudando, mas o principal ponto é o interno. “O maior peso no câmbio ainda é doméstico. Sinalizações do governo sobre reformas ou qualquer notícia positiva no lado fiscal vão ajuda mais”, afirma.

Leia também: Santander vê cenário binário para câmbio, com possibilidade de dólar a R$ 4,60 ou a R$ 6,70

Na mesma linha, José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos, aponta que a moeda americana não deve perder o patamar de R$ 5,10 tão cedo, com investidores aguardando decisões do Congresso sobre reformas e ações de equilíbrio fiscal. Segundo ele, isso deve ficar para depois das eleições para presidente da Câmara e do Senado, em fevereiro.

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“Notamos que o Dollar Index sofreu desvalorização excessiva nos últimos dias. É possível que o dólar faça uma correção para a faixa R$ 5,20 – R$ 5,30, quando seria uma venda mais razoável, para depois cair”, afirma ele, ressaltando esse período em torno de fevereiro.

Já para Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander, o cenário do dólar é binário, dependendo exatamente da questão fiscal. Se o governo seguir a trajetória de afirmar a responsabilidade fiscal e a macroeconômica, há espaço para apreciação da moeda brasileira, com o dólar podendo cair a R$ 4,60. Por outro lado, se o governo não conseguir dar uma demonstração clara sobre como vai endereçar a questão da dívida pública, a moeda americana poderá atingir a cotação de R$ 6,70, destacou ela em evento realizado no fim de novembro.

Após a forte queda, os analistas reforçam que é possível ver uma correção pontual nos preços, como a que ocorre nesta sexta, com a moeda subindo 0,47% às 14h20 (horário de Brasília), para R$ 5,1638 na compra e R$ 5,1643 na venda. Por outro lado, a cotação agora parece estar mais ajustada a realidade e novas boas notícias precisam acontecer – principalmente no âmbito nacional – para que a baixa se estenda mais.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.