AES Corp vence disputa acirrada com Eneva por AES Tietê – mas acionistas de TIET11 não comemoram

Expectativa é de pressão para ativos por conta da saída de investidores a favor da megafusão e em meio a dúvidas sobre venda das ações que restam do BNDES

Lara Rizério

AES Tietê - Ibitinga (Foto: Divulgação)
AES Tietê - Ibitinga (Foto: Divulgação)

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SÃO PAULO – Após meses de disputa, finalmente um vencedor. Na noite de ontem, a AES Tietê (TIET11) informou, através de fato relevante, que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aceitou a proposta da AES Corp pela fatia de 18,5% do capital total da geradora por R$ 1,27 bilhão em dinheiro – equivalente a R$ 17,15 por unit da companhia. Além disso, foi feito um compromisso de migração da companhia para o Novo Mercado.

Com essa notícia, encerrou-se a batalha entre Eneva (ENEV3) e a AES Corp pela fatia na companhia o que, aparentemente, não agradou os acionistas de ENEV3 e nem os de TIET11. Os ativos da Eneva chegaram a cair 5,40% na mínima do dia, enquanto a TIET11 chegou a ter queda ainda mais expressiva, de 13,69%. As units da AES Tietê fecharam em queda de 8,35%, a R$ 15,26, enquanto os papéis ENEV3 tiveram baixa menos expressiva, de 2,14%, a R$ 49,81.

Vale destacar que a Eneva havia feito uma nova proposta na última semana, mas que não agradou o BNDES, já que previa o pagamento em dinheiro de R$ 727,9 milhões (além de troca de ações), considerada uma relação que não atenderia o propósito de desinvestimento do banco, uma vez que posteriormente o banco de fomento teria que se desfazer das ações da “nova empresa” resultante da incorporação entre Eneva e Tietê.

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Durante o fim de semana, foi noticiado que a AES Corp. havia feito uma proposta pela Tietê por um valor de R$ 1,27 bilhão em dinheiro e, segundo o jornal O Globo, o banco de fomento teria decidido vender as ações para a AES.

Já na tarde da última segunda-feira, no meio do pregão regular na B3, a Eneva tentou a sua última ofensiva: uma proposta de R$ 1,99 bilhão na proposta pela totalidade da AES Tietê, com o restante em troca de ações, numa transação que avaliava a empresa em R$ 7,9 bilhões. Vale ressaltar que, em abril, a Eneva havia avaliado a companhia em R$ 6,6 bilhões e, na semana passada, elevou para R$ 7,54 bilhões a avaliação, tendo feito nova avaliação para cima na segunda-feira. Em meio a mais esse capítulo da disputa com a proposta da véspera, as units TIET11 tiveram forte variação positiva na véspera, com alta de 7,07%.

Com a nova proposta, a expectativa era de que o BNDES pudesse adiar a sua decisão. Contudo, o BNDES não se estendeu na disputa e acabou decidindo, em reunião realizada na noite da última segunda-feira, ficar com a proposta da americana AES Corp.

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Segundo informações do Valor Econômico, o banco avaliou que preferia manter o propósito de seu processo, que era desinvestimento e dinheiro no caixa.

Além disso, o conselho também ponderou a mudança de missão do banco de fomento, que não é participar dos planos futuros de companhias brasileiras para criar grandes grupos nacionais ou ser um acionista ativo em empresas diversas de capital aberto, que seria a resultante de uma incorporação da Tietê pela Eneva. Já na questão de governança, aceitou o compromisso de migração para o Novo Mercado  o mais alto nível da B3.

Contudo, aceitar a proposta mais “modesta” em valores absolutos e deixar para trás a criação de uma gigante do setor de energia acabou frustrando acionistas de AES Tietê e Eneva, uma vez que muitos viam no negócio um grande potencial de integração entre as duas companhias.

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Conforme destaca Gabriel Fonseca, analista da XP Investimentos, a aquisição pela empresa norte-americana deve ajudar a proteger a empresa de propostas futuras de aquisição, uma vez que a AES Corp. será detentora de uma maior parte do capital total da companhia, embora ainda não seja mais que 50% do capital total.

Por outro lado, destaca, eventuais acionistas da AES Tietê que tinham uma visão favorável da combinação de negócios com a Eneva podem acabar gerando um fluxo de venda das ações, o que poderia causar uma pressão temporária negativa sobre os preços de TIET11.

A companhia resultante da fusão seria a segunda maior geradora de energia privada no Brasil, com 6,1 gigawatts (GW) de capacidade total entre usinas operacionais e projetos em construção. Ela ficaria atrás apenas da Engie Brasil, que possuí 10,6 GW (incluindo projetos em construção).

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Para a Eneva, a formação de uma companhia integrada de energia levaria a uma grande competitividade. Já para a AES Corp, que sempre se manifestou contra a incorporação das duas companhias, a fusão entre elas resultaria em uma “poluição” da carteira de ativos de energia renováveis (dentre eles, hidrelétrico e eólico) da Tietê, ao adicionar termelétricas movidas a carvão.

Em abril, cabe lembrar, o investidor Luiz Barsi Filho, acionista minoritário da AES Tietê, posicionou-se contra a proposta de fusão, elencando alguns motivos principais. Dentre eles, a matriz energética concentrada em energias poluentes, além da falta de uma política de dividendos na Eneva.

O analista da XP Investimentos aponta ainda uma outra questão: ainda restam dúvidas acerca do que o BNDESPar fará com sua participação remanescente de 9% (a AES Corp comprará 18,5% dos 28,4% do capital da Tietê) e em que condições ocorrerá a migração da AES Tietê para o Novo Mercado.

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“Destacamos que haverá volatilidade no curto prazo no preço das ações de AES Tietê”, avalia Fonseca. Contudo, ele segue com recomendação de compra para os ativos, com preço-alvo de 12 meses de R$ 17 por unit é exclusivamente baseada nos fundamentos da companhia, o que representa um potencial de valorização de 2,1% frente o fechamento de segunda-feira (27).

Já para a Eneva, o Itaú BBA destacou a notícia como negativa para os ativos, mas segue com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 39. Apesar da recomendação, o valor representa uma queda de 25,2% em relação ao fechamento de segunda.

Vale destacar que, em entrevista ao Valor, o diretor financeiro da Eneva, Marcelo Habibe, afirmou que o “assunto AES Tietê” já tem um ponto final para a empresa. Já ao ser questionado sobre a possibilidade de fechar outra operação este ano, disse ser pouco provável concluir algum negócio nesse prazo pois as operações duram meses. No entanto, afirmou ser possível anunciar alguma operação nesse período.

Desta forma, mesmo sem a fusão entre as duas companhias, a visão segue sendo positiva para elas separadamente. Contudo, para os ativos TIET11, a expectativa é de pressão no curto prazo, em meio à decepção de alguns acionistas por conta da não-fusão entre as duas companhias – e com os investidores atentos ao modo como o BNDES pode se desfazer do restante dos ativos.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.