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SÃO PAULO – Com o mundo inteiro discutindo formas de se reerguer diante da crise causada pela pandemia, os debates sobre modelos de desenvolvimento sustentáveis foram acelerados. Marina Silva, uma das principais vozes sobre o tema no país, defende que a saída para a atual crise civilizatória que o mundo enfrenta está, justamente, na sustentabilidade.
“Não dá para continuar alocando 99% dos recursos para a agenda da velha economia predatória e 1% para a agenda da sustentabilidade. Agora é a hora de fazermos de fato essa transição”, disse a ex-ministra do Meio Ambiente.
Marina participou nesta quinta-feira (16) do painel “O papel dos investidores na construção de um Brasil sustentável”, na Expert XP 2020, congresso de investimentos anual do grupo XP Inc.
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A ex-ministra disse que, se no passado governos e sociedade eram divididos entre socialistas, capitalistas, liberais e conservadores, mas ao mesmo tempo todos se classificavam como desenvolvimentistas, agora todos são chamados para se tornar “sustentabilistas”.
“A sustentabilidade não é algo de um grupo, é uma necessidade civilizatória. É por isso que fundos de investimento não querem investir em quem tem economia predatória. É por isso que governos estão buscando sinergia entre investimentos públicos e privados para que, ao mesmo tempo que saiamos da crise econômica agravada pela pandemia, possamos sair da crise social e da grave crise ambiental que ameaça não apenas parte da vida, mas toda a vida no planeta”, disse.
Ao analisar o cenário brasileiro mais especificamente, Marina afirmou que as gestões de governo anteriores reduziram o desmatamento da Amazônia em 83% com o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, mas disse que esse “ciclo virtuoso” foi rompido pelo atual governo.
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“A economia e o agronegócio estavam crescendo e o desmatamento caindo. E os investidores externos, obviamente, ficam mais tranquilos em uma situação como essa. Agora temos um retrocesso ético e político que faz o Brasil não só ter recursos a fundo perdido, que poderiam ser investidos no fortalecimento da governança e no desenvolvimento de pesquisas e atividades produtivas sustentáveis, mas esses recursos estão parados há um ano e meio”, disse.
Ela afirmou que a visão de que a economia se opõe à ecologia é a grande barreira que o país precisa romper para que haja uma realocação de capital que favoreça os projetos sustentáveis. E acrescentou que essa barreira se sustenta em decisões políticas e éticas concretas, que poderiam ser revertidas partir de ações não só do governo, mas da sociedade civil e dos empresários.
“Não dá para os recursos da agenda da sustentabilidade serem uma espécie de ‘santa indulgência’ daqueles que estão investindo na agenda predatória”, afirmou a ex-ministra.
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Ao destacar a abundância de recursos naturais e culturais do País – que é dono 20% das espécies vivas do mundo, 11% da água doce do planeta e de uma “diversidade cultural invejável”, com mais de 200 povos, que falam 120 línguas – Marina defendeu que o Brasil teria tudo para ser uma nova potência global. “O Brasil é o país que está para o século XXI, como os EUA estavam para o século XX.”
Investimentos de impacto
O painel também contou com a participação de empresários e investidores engajados em projetos ambientais e sociais. Eles discutiram a sigla que virou destaque no mercado financeiro do Brasil e do mundo todo: ESG (environmental, social and governance, em inglês), termo que representa os investimentos que levam em consideração critérios ambientais, sociais e de governança.
Beatriz Johannpeter, uma das herdeiras da família Gerdau, reforçou que a pandemia disseminou os investimentos de grandes corporações na área social, já que a crise econômica intensificou as desigualdades existentes no país. Mas ela ressaltou que esse movimento precisa ser pensado continuamente para gerar impactos ainda mais positivos.
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“A sociedade civil organizada precisa desses recursos e realmente as empresas têm um papel importante nesse sentido. A pandemia acelerou algumas questões que já vinham sendo já disseminadas e, hoje, alguns relatórios de RI [Relações com Investidores] deixam de ter o foco só econômico e passam a trazer visões sociais e ambientais”, diz.
Para Beatriz, as empresas brasileiras estão trilhando um caminho para criar estruturas de governança com foco social e ambiental, que visam: estreitar suas relações com as comunidades locais; garantir o bem-estar dos colaboradores; melhorar as relações com investidores; e construir uma boa reputação.
A mudança também passa pelo momento de tomada de decisão dos investimentos, que agora leva em consideração ativos financeiros, com atuação social e ambiental, como green bonds (títulos de renda fixa para o financiamento de projetos sustentáveis), fundos ESG, fundos de investimentos de impacto ou filantrópicos. “O mercado financeiro está se despertando para essas questões. Os empresários e as famílias bilionárias podem contribuir e cada um de nós, como cidadãos, também”, pontua Beatriz.
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A filantropia e a doação são mecanismos poderosos no esforço de tornar o país mais próspero e justo, de acordo com Rodrigo Pipponzi. O administrador e sócio-fundador da Editora MOL, especializada em impacto social, é um dos herdeiros da Raia Drogasil e foi peça chave na introdução do investimento de impacto no empreendimento da família.
“Passei a influenciar muito a minha família sobre como nós poderíamos olhar para os investimentos na linha do ESG e aportar recursos em fundos voltados para o social e ambiental”, revela Pipponzi, que diante do esforço pessoal em intensificar as estratégias de filantropia da família, criou o Instituto ACP.
“O instituto nasceu dentro da família com o objetivo de fomentar o desenvolvimento institucional do terceiro setor, porque entendemos que ele é parte fundamental de uma construção sustentável. O grande exemplo disso é quando, durante a pandemia, com toda a explosão das doações corporativas é o terceiro setor que está canalizando, recebendo essas doações e fazendo com que elas virem soluções para a população”, explica.
Em meio aos desafios de se construir uma sociedade menos desigual, os negócios de impacto social ganham destaque.
Segundo Alex Seibel, sócio-fundador de empresas como a Positiv.a, de produtos de limpeza ecológicos e veganos, e a ARCAH, que trabalha com a inclusão social de pessoas em situação de rua, a economia circular abriu espaço para que empresas e marcas desenvolvam produtos inspirados na sabedoria da natureza.
“O capital tem um poder gigantesco de escalar as coisas e esses negócios ajudam a construir um novo modelo de sociedade e atender os desafios globais que temos, sem perder a rentabilidade financeira. A filantropia tem o seu papel, mas o negócio precisa do lucro. Eu não vejo conflito em ser rentável e resolver problemas da sociedade”, conclui.
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