À espera de recessão global “branda”, J.P. Morgan Asset projeta recuperação econômica ao fim do ano

Para Gabriela Santos, estrategista para mercados globais da gestora, momento atual não pode ser comparado a crise de 2008

Beatriz Cutait

Gabriela Santos, estrategista para mercados globais do J.P. Morgan Asset Management.
Gabriela Santos, estrategista para mercados globais do J.P. Morgan Asset Management.

SÃO PAULO – Os efeitos do surto do coronavírus e da forte queda do petróleo ainda estão por vir. Ainda que o mercado se antecipe, a economia só deve mostrar um balanço efetivo quando os números do PIB dos próximos trimestres forem revelados. E tudo aponta para uma recessão global.

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Na visão de Gabriela Santos, estrategista para mercados globais do J.P. Morgan Asset Management, a China tende a apresentar queda nos primeiros três meses do ano, com recuperação no segundo. Na Europa, os dois primeiros trimestres devem ser negativos e, nos Estados Unidos, os impactos devem ser sentidos principalmente no segundo e no terceiro trimestre.

A sinalização, contudo, é de uma retomada na sequência.

“A perspectiva definitivamente piorou um pouco para o curto prazo, esperamos uma possível recessão global, porém não estamos falando de uma crise em comparação a 2008. Seria uma recessão branda, de curto prazo, com uma eventual recuperação no fim do ano”, afirmou a estrategista, em entrevista ao InfoMoney na tarde desta quarta-feira.

Enquanto os mercados globais, com destaque para o brasileiro, derretiam, Gabriela, que fica baseada em Nova York, dizia que as respostas fiscais e monetárias tendem a surtir efeito ainda em 2020. Ainda que a visão sobre as economias emergentes tenha piorado, por ora é descartada uma recessão.

Ao comentar sobre as oportunidades geradas pelas fortes quedas da Bolsa, a estrategista assinalou que a gestora segue entusiasta do setor de tecnologia, nos Estados Unidos, e de consumo, no Brasil. “Pouco a pouco vale a pena focar nesses temas para o médio e o longo prazo.”

Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

Queda justa dos mercados

“Não achamos que os movimentos dos mercados estão exagerados. Eles estão reagindo a uma mudança muito rápida do cenário-base, de uma aceleração para desaceleração no curto prazo significativa. Era necessária uma reprecificação no mercado de ações, de crédito, de dívida do governo.

A perspectiva definitivamente piorou um pouco para o curto prazo, esperamos uma possível recessão global, porém não estamos falando de uma crise em comparação a 2008. Seria uma recessão branda, de curto prazo, com uma eventual recuperação no fim do ano.”

Recessão a caminho

“Neste ano, a perspectiva mudou muito e muito rapidamente, devido a dois choques simultâneos na economia global. O primeiro é o coronavírus e o impacto que está tendo e ainda pode ter sobre a atividade econômica.

E o segundo choque simultâneo é o com relação a essa queda profunda dos preços do petróleo e o impacto que pode ter principalmente em crédito.

Nossa perspectiva estava certamente muito mais otimista entrando neste ano, estávamos esperando uma recuperação da economia global. Agora, com esses dois choques, estamos muito menos otimistas, achando que há realmente uma alta possibilidade de vermos uma recessão global, incluindo uma recessão nos Estados Unidos pelo menos por dois trimestres do ano.”

O que muda na alocação?

“Acho que neste momento a gente tem que ter uma certa calma e focar em duas coisas: primeiro ter certa proteção adicional para esse momento turbulento na economia e nos mercados globais, que ainda pode continuar por algumas semanas.

É muito crítico focar na qualidade das companhias em que estamos investindo, principalmente em crédito. Com esses dois choques tão fortes em atividade e petróleo, não vão ser todas as companhias que vão conseguir sobreviver a esse momento.

Então é muito importante focar em empresas com balanço solido, menos alavancagem e com uma certa compensação para um risco extra.

Pensando em investidores brasileiros, esperamos que o dólar se mantenha forte nesse cenário, com toda essa busca de qualidade, essa aversão a risco. Devemos ainda ver muita demanda, por exemplo, por ativos como Treasuries, o que deve manter o dólar forte.

Ter uma certa diversificação global e uma posição em dólar para o investidor brasileiro pode ser ainda mais importante.”

Perspectiva para renda variável

“O importante neste momento é manter certa calma e pensar qual é o seu horizonte de investimento, não abandonar os ativos de crescimento no portfólio, o que acaba incluindo a renda variável.

Não queremos sair completamente ou esquecer da renda variável americana, principalmente do setor tecnológico, ou da emergente, especialmente relacionada a consumo. Não temos como abandonar os nossos objetivos de médio e longo prazo.”

Vale a pena comprar com a queda?

“Depende de como cada investidor está posicionado. Em termos de adicionar exposição, não é preciso fazer tudo hoje ou amanhã, mas é possível entrar devagar durante as próximas semanas.”

O impacto de cortes de juros mundo afora

“Infelizmente não são muito eficazes. O remédio necessário não é da política monetária. O que os bancos centrais podem fazer, seja o Federal Reserve, o Banco Central Europeu ou o brasileiro, é pelo menos ajudar a manter as condições financeiras acumulativas, ou seja, validar a precificação do mercado, que nos EUA estava e segue pedindo por um corte de juros.

O Fed cortou os juros e deve continuar a cortar para perto de zero, exatamente para validar as expectativas do mercado e não causar uma volatilidade adicional.”

O necessário para dissipar o pânico

“Acho que vai ser importante ver uma estabilização dos novos casos do vírus. E o segundo ponto que ajudaria a estabilizar o mercado seria não uma resposta de política monetária, mas uma resposta fiscal. É o mais importante neste momento.

Ela não vai blindar a economia dos efeitos do coronavírus ou da queda do preços do petróleo, mas vai facilitar uma eventual recuperação quando o número de casos se estabilizar.”

O que esperar para o Brasil?

“No fim do ano os dados econômicos já tinham decepcionado um pouco, não podemos culpar só o coronavírus e a queda de preço do petróleo. Mas é claro que a evolução desses dois choques limita ainda mais o crescimento do Brasil no curto prazo.

A perspectiva de crescimento diminuiu ainda mais desde o começo do ano, mas ainda é cedo para falar de recessão no Brasil. O número de casos ainda está pequeno e não estamos vendo nenhum tipo de limitação do movimento das pessoas, como na Itália ou em alguns estados nos EUA. O Brasil ainda está numa situação um pouco diferente dessas outras economias com as quais nos preocupamos mais.”

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.