Para Ilan Goldfajn, mercado local não deve esperar por investidor estrangeiro: “A festa é nossa”

“O mundo não vai mudar, as incertezas estão aí e os juros vão continuar baixos”, afirmou o presidente do conselho do Credit Suisse no Brasil

Mariana Zonta d'Ávila

Ilan Goldfajn, presidente do conselho do Credit Suisse no Brasil, durante evento da Western Asset em São Paulo (Mariana d'Ávila)
Ilan Goldfajn, presidente do conselho do Credit Suisse no Brasil, durante evento da Western Asset em São Paulo (Mariana d'Ávila)

SÃO PAULO – Se de um lado há uma parte relevante do mercado financeiro aguardando a entrada de estrangeiros para ver o fortalecimento da Bolsa brasileira e a valorização da moeda, há quem já tenha se resignado com a ausência de investidores de fora, e credite a continuidade do bom desempenho do mercado à presença dos brasileiros. Pelo menos no curto prazo.

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Neste grupo está Ilan Goldfajn, presidente do conselho do Credit Suisse no Brasil, e ex-presidente do Banco Central, que comentou sobre essa espera do estrangeiro em evento nesta quarta-feira.

“É como se você estivesse em uma festa e aí dá meia noite, uma hora da manhã, e perguntam: cadê o estrangeiro? Um responde: está vindo. Você pede mais um chope. Quando dá três horas da manhã, outro pergunta: cadê? A resposta: vai vir”, exemplificou. “Não vai vir, gente, bebe seu chope, vai para casa. A festa é nossa”, disse Goldfajn, durante evento da Western Asset.

Segundo informações do Banco Central, entre janeiro e outubro deste ano, o fluxo cambial ficou negativo em US$ 21,5 bilhões. O número é maior que os US$ 16,2 bilhões registrados em 1999, até então o pior ano da série histórica do Banco Central, iniciada em 1982.

Para o ex-presidente do BC, não devemos contar, pelo menos tão cedo, com a volta de dólares ao Brasil. “Poupança, renda fixa de curto prazo, ativos reais, é disso que precisamos”, afirmou.

A saída de recursos estrangeiros do Brasil se deve, na visão de Goldfajn, à mudança mundial de apetite ao risco, em que, diante de um cenário global incerto, com guerra comercial e crescimento mais baixo das economias, investidores têm preferido alocar em ativos mais seguros.

Além disso, com a queda da Selic, o diferencial de juros entre outras economias e o Brasil agora é outro. “O mundo não vai mudar, as incertezas estão aí e os juros vão continuar baixos.”

Ele lembra que antes as empresas captavam em dólar, tomavam risco cambial e investiam no Brasil. Agora, há uma corrida para pagar a dívida externa e emitir localmente, via debêntures.

“Se o patamar de juro mudou e essa arbitragem de empresas, bancos e investidores acabou, está claro que o patamar de câmbio também vai se modificar”, diz. “Arrisco dizer que, olhando para daqui a dez anos, provavelmente o câmbio vai estar mais depreciado que nos últimos dez anos. Isso é natural e é algo que temos que nos acostumar.”

Ambiente de juros baixos

Já é consenso no mercado financeiro que um ambiente de juros baixos veio para ficar. E, apesar de tornar a vida do poupador mais difícil, diz Goldfajn, é um “fenômeno bem-vindo”. “O patamar mudou, não significa que não pode ser mais alto ou mais baixo ao longo dos próximos anos. A ideia de que não volta mais para dois dígitos é importante”, afirma.

O estímulo de juros mais baixos, aponta, faz com que as pessoas invistam em ativos reais, em fundos de infraestrutura e fundos imobiliários, na busca por melhores retornos. “A economia brasileira vai começar a viabilizar investimentos que antes eram inviáveis com as altas taxas de juros, e aumentar a demanda por ativos reais.”

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